O homem caipira nas obras de Lobato e de Mazzaropi : a construção de um imaginario

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2002

RESUMO

Um confronto entre as obras de Monteiro Lobato e de Mazzaropi leva a interessantes observações sobre os procedimentos adotados na construção da figura do caipira presente na Literatura e no CinemaBrasileiros. Enquanto Monteko Lobato, ao criar o Jeca Tatu, não considera o processo histórico que criou um tipo de cultura específica dentro do corpo da sociedade brasileira, a cultura caipka, Mazzaropi, ao aproveitar a personagem de Lobato no cinema, traz contribuições importantes para que seja ouvida a voz do caipka. Lobato não considerou particularidades da cultura caipka, ignorou a expropriação das formas dessa cultura, além da expropriação das formas de economia. Mais ainda, Lobato fala a partir de seu lugar de classe e silencia a voz do caipka, por meio do procedimento de atribuição de voz, e, ao folclorizar o caipira, faz revelar a visão que a área dos ocupantes tem dos ocupados. A voz que prevalece, então, é a voz do outro, falando sobre o não ser. Numa perspectiva que considera uma dialética do "não ser e do ser outro", de Paulo Emílio Salles Gomes, a análise do filme Jeca Tatu, traz o caipka, na obra de Mazzaropi, como pertencente à área do ocupado, ocupado esse criado pelo ocupante. Mazzaropi dá voz ao caipka, propicia o encontro do representado com sua representação, e se utiliza de alguns recursos sorrateiros e eficientes na representação do caipka. A personagem filmica de Mazzaropi, Jeca Tatu, vai insem-se na "dialética da malandragem", proposta por Antonio Candido. Com a assunção da malandragem, o Jeca de Mazzaropi vai aparecer desfolclorizado, porque vivo, dinâmico e não preso a um congelamento da imagem do caipka, segundo interesses dos ocupantes. À malandragem, Mazzaropi carreia outro recurso: na instância do discurso, o Jeca acaba por "desconstruir" o lugar de fala do ocupante, com a recorrência ao riso, com a reserva para si da última palavra. Assim, o Jeca de Mazzaropi aparece com voz e pode promover um lugar de resistência dentro dojogo das forças sociais.

ASSUNTO(S)

cinema

Documentos Relacionados