Nutrir-se ou comer: diálogos e dilemas no cotidiano de clientes e de nutricionistas em restaurantes de refeição por peso / Nourish or eat: dialogues and dilemmas in the everyday of customers and nutritionists in meal by weight restaurant

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

21/03/2012

RESUMO

A alimentação é uma necessidade biológica e um fenômeno social. Estudos recentes registram aumento no desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis relacionadas à alimentação. No Brasil, pesquisas tem identificado que a alimentação fora do domicílio tem contribuído para o aumento do sobrepeso e da obesidade O restaurante de refeição por peso tornou-se um ambiente rotineiro de refeições para muitos trabalhadores e apresenta-se como um espaço promissor para ações de promoção da saúde. OBJETIVO: Identificar representações sociais sobre fatores que influenciam as escolhas alimentares de clientes de restaurantes de refeição por peso e apreender a percepção de nutricionistas sobre possibilidades de desenvolvimento de ações de educação nutricional nesses locais. MÉTODO: Estudo transversal, qualitativo, tendo como referencial teórico as representações sociais na ótica da psicologia social de Moscovici. A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas: a primeira ocorreu em dois restaurantes comerciais no município de São Paulo com a participação de 60 sujeitos, adultos de ambos os gêneros, e na segunda foram entrevistadas duas nutricionistas que atuam na área de alimentação coletiva. Os dados foram coletados após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Utilizou-se entrevista gravada, seguindo roteiro semiestruturado para: investigar os condicionantes das escolhas alimentares de clientes em restaurantes de refeições por peso, identificar as representações sociais sobre a relação alimentação, saúde e doença, identificar conhecimento sobre alimentação saudável e apreender a percepção dos sujeitos sobre a necessidade de mudanças na sua rotina de alimentação visando a promoção de sua saúde. Para a análise dos dados utilizou-se a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo, com o apoio do software Qualiquantsoft. Os resultados foram discutidos em um encontro com nutricionistas que atuam no ramo de restaurantes de refeição por peso, para se pensar estratégias de promoção da saúde nesses locais. RESULTADOS: Foram identificadas seis categorias para fatores que determinam as escolhas da refeição em restaurantes de refeição por peso. Sobre a escolha entre o sabor e a saúde (43 por cento ) da amostra pensa na saúde quando escolhe a refeição, (30 por cento ) tentam equilibrar a saúde e o sabor e (27 por cento ) se decidem pelo sabor. O conhecimento sobre escolhas saudáveis foi representado pelas seguintes Ideias Centrais (IC): saladas, alimentos com pouca gordura e frutas (36 por cento ); equilíbrio entre os grupos alimentares e um prato colorido (33 por cento ); comida simples e alimentos crus (19 por cento ). Também foram identificadas as representações de que as escolhas saudáveis incluem alimentos naturais; que depende da necessidade do organismo. Quanto à percepção do sujeito sobre a necessidade de mudança na sua rotina alimentar foram identificadas 12 Ideias Centrais, que representam categorias de análise. Apresentamos as cinco categorias que apresentaram maior frequência de contribuições: Não vê necessidade de mudança porque já cuida da dieta (24 por cento ); Mudaria várias coisas (23 por cento ); Comeria menos carne e frituras (15 por cento ); Comeria menos doces (13 por cento ); Comeria menos pão e massas à noite (11,6 por cento ). As nutricionistas que atuam em restaurantes de refeição de autosserviço não se surpreenderam com o fato dos clientes conhecerem as bases da alimentação saudável. Quanto às razões dos sujeitos não utilizarem essa informação no seu cotidiano as nutricionistas entendem que o preparo da comida exige tempo e que eles não gostam de cozinhar. As profissionais acreditam que os clientes fazem associação da alimentação com a saúde ou doença, mas que não se importam com essa questão no momento de servir-se. Referem que é contraditório atuar em ações de educação em saúde porque os restaurantes têm metas para vendas, e que estas iniciativas poderão ser possíveis se houver projetos aprovados em parceria com os responsáveis da empresa. As nutricionistas apresentaram como ações alternativas: atuar na produção das preparações reduzindo sal e gordura; desenvolver um projeto em parceria com o pessoal do setor financeiro; adaptar receitas reduzindo a densidade calórica e fazendo testes de aceitabilidade com os clientes. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A maioria dos sujeitos valorizou o aspecto visual e estético relacionados à apresentação dos alimentos no balcão de autosserviço, sua aparência e qualidade como fatores decisivos para suas escolhas alimentares. A variedade na oferta de alimentos, o tempo reduzido de espera para tomar sua refeição, o preço e a fome influenciam a qualidade e a quantidade de alimento a ser consumido. De uma forma geral, os sujeitos que almoçam em restaurantes de refeição por peso convivem com o dilema de decidirse entre o sabor e a saúde e que o nutricionista convive com o conflito entre as metas de venda e a promoção da saúde de sua clientela. As representações sociais demonstram que essa clientela conhece conceitos básicos da alimentação saudável. Os sujeitos reconhecem a necessidade de melhorar sua alimentação para promover sua saúde, contudo referem dificuldades para alterar sua rotina. Apontam causas sociais como morar sozinho, não saber cozinhar, não ter tempo para essas tarefas e também falta de motivação para essas mudanças. Frente à urgência do enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil, recomenda-se que o tema educação nutricional para escolhas saudáveis em restaurantes de autosserviço seja explorado em outras pesquisas

ASSUNTO(S)

alimentação coletiva alimentary consumption collective feeding consumo alimentar doenças crônicas não transmissíveis educação em saúde educação nutricional health education health promotion nontransmissible chronic diseases promoção da saúde

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