Avaliação de bioacumulação de microcistina-LR em tilápias do Nilo (Oreochromis niloticus) exploradas comercialmente no Lago Paranoá (Brasília-DF)

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

A ocorrência de florações de cianobactérias produtoras de cianotoxinas é um problema mundial que está diretamente associado ao processo de eutrofização de ecossistemas lacustres. As microcistinas (MCs) são cianotoxinas de ação hepatotóxica relacionadas a episódios de intoxicações em animais e seres humanos. Neste trabalho, o acúmulo de MCs em tecidos de Tilápias do Nilo (Oreochromis niloticus) foi investigado em peixes do Lago Paranoá em Brasília-DF. Foram realizadas coletas quinzenais de peixes (n= 3) e amostras dágua (1 litro), no período de março de 2008 a junho de 2009, totalizando 34 coletas. O número de 102 exemplares de O. niloticus foram dissecados em fígado e músculo, extraídos em metanol (100%) e purificados em cartuchos C18 de extração de fase sólida. A detecção de microcistina-LR foi feita por HPLC acoplado com detector fotodiodo. Coincidindo com o período de transição da estação seca para chuvosa, logo após a fase de maior densidade de fitoplâncton, foi detectada MC-LR na coluna dágua e em tecidos dos peixes. Quando detectada, a concentração da toxina variou de 0,2314 a 1,5384 g/L; 0,0326 a 5,5549 g/g; e 0,0087 a 0,1803 g/g em amostras de água, fígado e músculo, respectivamente. Análises de espectrometria de massa e ELISA também confirmaram a presença dessa cianotoxina. Considerando que, (a) o músculo representa a parte comestível do pescado, (b) a Organização Mundial da Saúde define como limite de ingestão diária (TDI) 0,04 g de MCs/ kg de peso corpóreo/ dia, e (c) a média mundial de consumo de pescado é de 12 kg/ habitante/ ano, i.e., 55g/hab./dia, apenas a concentração média detectada nesse tecido no mês de dezembro de 2009 ultrapassou o TDI, com valor de 0,0569 g/g. Embora este estudo tenha verificado que o período após o pico de crescimento de fitoplâncton representa o período de detecção de maiores concentrações de MCs, apenas um em dezesseis meses amostrados apresentou valores ligeiramente acima do recomendado pela OMS. Considerando que a legislação existente para água potável permite dentro do período anual que até três amostras ultrapassem em até 10 vezes o limite; que para determinação do TDI foram aplicados diversos fatores de segurança; e que assumindo a média de consumo de pescado da área de estudo corresponde a média mundial que é quase o dobro da média brasileira 6-8 kg/ habitante/ ano, a ingestão de tilápias do Nilo provenientes do lago Paranoá não representa risco a saúde humana. Porém, como no Brasil não existe legislação específica para o controle da presença de cianotoxinas em alimentos, que é uma importante via de exposição e de risco para a saúde humana, sugere-se monitoramento periódico dos peixes desse lago.

ASSUNTO(S)

microcistins bioacumulação ciencias biologicas bioaccumulation eutrophication eutrofização cianotoxinas microcistina oreochromis niloticus cyanotoxins

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