As marcas da subjetivação profissional de uma professora alfabetizadora

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

De acordo com os pressupostos da teoria histórico-cultural, sobretudo as contribuições de Vigotski, é na relação com o outro que nos constituímos como humanos. Se a apropriação da cultura pelo homem ocorre por via da mediação social, ou seja, na relação euoutro, é também nesta relação que um professor torna-se professor: por meio das relações sociais estabelecidas e internalizadas em seu desenvolvimento, em um processo histórico e social. Ao problematizar a constituição profissional de uma professora alfabetizadora de Ensino Fundamental da rede pública de Uberlândia (MG), diferenciada em sua prática, o objetivo desta pesquisa foi conhecer os caminhos de subjetivação profissional desta docente, isto é, os seus processos de apropriação e internalização do sentido e dos modos de ser professora. A pesquisa qualitativa foi desenvolvida a partir da orientação metodológica da história oral de vida e constou de entrevista registrada em áudio, realizada em seis sessões. As cinco primeiras sessões, conduzidas livremente pela professora, destinaram-se ao relato de sua história. A sessão final foi semidirigida e destinou-se ao esclarecimento de aspectos tais como o papel da família em sua escolha e formação profissional; a sua relação com a escola e com a educação; as professoras que marcaram a sua trajetória escolar; sua percepção a respeito da construção da própria prática como um todo; o que ela considera importante na formação docente; enfim, como percebe o próprio processo de subjetivação profissional. Devidamente transcrita, a entrevista foi lida atentamente com o intuito de melhor apreender na narrativa como a participante constituiu-se professora. Buscou-se destacar os temas mais recorrentes e significativos, de maneira que pudessem configurar categorias de análise, ilustradas pelas falas e episódios biográficos que perpassaram a formação profissional da educadora. Os dados da pesquisa têm como substrato a memória da professora, reconstruída a partir da reconstituição de sua história de vida, com recordações daquilo que foi sendo significado e internalizado a partir das mediações e dos sentidos construídos acerca do que representa, para ela, ser professora. Como afirma Vigotski, a memória é uma função psicológica superior que se constitui histórica e socialmente pela mediação social. Verifica-se que a história de vida da docente foi e é permeada por experiências marcantes que revelam, desde muito cedo, um contato com o universo escolar atravessado por relações afetivas, especialmente na figura de uma tia, a primeira professora de Clara, que a apresentou à leitura, à fantasia e à imaginação. As outras professoras, ao longo de sua formação, também foram importantes para que ela aprendesse e desenvolvesse reflexões em relação à função educativa, mesmo quando não condiziam com sua compreensão acerca da profissão. O contato com os pares, supervisoras e alunos igualmente constituíram aprendizagens significativas para que a professora que se tornou alfabetizadora pudesse fazer emergir, em seus projetos, suas concepções acerca da escola e da educação, refletidas em uma prática pedagógica diferenciada. Em seus relatos, fica evidente que a subjetivação profissional, no caso da docência, não se inicia no momento da escolarização formal, profissionalizante, mas principia nas vivências que envolvem situações de ensino e de aprendizagem que, dialeticamente, constituem o sujeito.

ASSUNTO(S)

história oral de vida aprendizagem psicologia do desenvolvimento oral life history learning formação docente memória subjetivação profissional desenvolvimento psicologia professores - formação teacher training memory professional subjectivity development

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