Uma reflexão sobre o processo de inclusão no mercado de trabalho: a perspectiva da pessoa com deficiência / A reflection on the process of inclusion in the work force: the perspective of the handicapped

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

No presente trabalho realizou-se uma reflexão sobre as perspectivas de inclusão social da pessoa com deficiência no mundo do trabalho. Discutiu-se como a pessoa com deficiência percebe o processo de inclusão social na família e em suas relações com o mercado de trabalho, analisando suas percepções, expectativas e angústias diante deste processo. A idéia da pesquisa surgiu de minha prática profissional em Serviço Social na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Ubá-MG, onde venho me deparando com situações de conflito vivenciadas pelas pessoas deficientes em relação à sua inserção no mercado de trabalho. As questões que nortearam este trabalho puderam ser construídas a partir das seguintes indagações: como garantir a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, que é, em si, excludente e altamente seletivo, principalmente considerando o desemprego estrutural em que se vive? As instituições formadoras estão preparando seus educandos para enfrentarem as adversidades de um mercado de trabalho tão seletivo e competitivo? Estão sendo formados cidadãos que realmente se sintam sujeitos de seus próprios processos de inclusão? As famílias estão engajadas nesse movimento, que deveria resultar em ganhos afetivos, laborais e financeiros? As famílias são sabedoras de seu papel como interlocutoras desta causa, que contribuirá para a construção de uma sociedade menos desigual? A justificativa da busca desse conhecimento baseia-se no fato de que os sentimentos e as expectativas da pessoa com deficiência em relação ao processo de inclusão no mercado de trabalho são elementos fundamentais para que ela possa viver plenamente o processo de sua inclusão social na família e no trabalho. Em termos metodológicos, selecionou-se como local de estudo a APAE/Rural, localizada na cidade de Ubá, região da Zona da Mata mineira, por estar sendo desenvolvido nessa instituição um Programa de Preparação e Colocação no Mercado de Trabalho de pessoas com deficiência. A população foi caracterizada por alunos matriculados no Centro Profissionalizante da APAE/Rural e que estão inseridos no mercado de trabalho, seja como aprendizes, funcionários ou como participantes, por meio do Programa de Colocação no Mercado de Trabalho, totalizando 23 pessoas com deficiência. Para realização desta pesquisa foram utilizados a Teoria Ecossistêmica e o modelo Teórico de Administração de Recursos de Deacon e Firebaugh, que serviram como fonte de apoio no processo de análise das relações laborais, institucionais, sociais e familiares. A metodologia utilizada foi a abordagem qualitativa, tendo a técnica de coleta e construção de dados se pautado, em um primeiro momento, na análise dos prontuários dos alunos e, em um segundo momento, em entrevistas com as pessoas deficientes. As entrevistas, fundamentadas em um roteiro semi-estruturado, foram realizadas com alguns na própria instituição e com outros, em suas residências. Por meio deste estudo, pôde-se observar que as pessoas com deficiência são colocadas em tarefas simples, não havendo uma preocupação maior em relação à atividade e ao preparo quanto à sua qualificação profissional. Ainda vive-se o processo de integração, no qual elas possuem apenas o direito de estar na sociedade, adaptando-se ao exercício de atividades que são escolhidas pelos empregadores e coordenadores de Programas de Colocação no Mercado de Trabalho, não valorizando suas habilidades e cabendo às pessoas com deficiência a tarefa de superação de suas deficiências. O paradigma da inclusão social no mercado de trabalho para essas pessoas apresenta-se como uma idealização, em que elas se vêem através das expectativas que os atuais empregos e estágios fornecem. Os indivíduos deficientes, ao vivenciarem suas relações, se reconhecem nas interações mútuas, simultâneas e recorrentes que são estabelecidas entre o aprendiz e o meio, como também no dinamismo entre os demais indivíduos envolvidos nesse processo e suas organizações. O fato de as pessoas com deficiência aprenderem a lidar com suas limitações e com o outro faz com que elas adquiram comportamento mais responsável, contribuindo, assim, para mudança de comportamento no ambiente familiar, institucional, laboral e social. Em função desses resultados pode-se concluir que as pessoas com deficiência da APAE/Rural encontramse em um processo de interação social, sem, entretanto, conseguirem se preparar para assumirem seus papéis na sociedade.

ASSUNTO(S)

work trabalho economia domestica disabilities deficiência social inclusion inclusão social

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