Socialidade e acesso a recursos alimentares por fêmeas de saguis (Callithrix penicillata) em grupos em ambiente natural

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

O sagui do cerrado ou mico estrela (Callithrix penicillata) é um primata bem descrito para suas características fisionômicas, mas as características sociais, comportamentais e reprodutivas específicas são pouco conhecidas. Poucos são os trabalhos sobre a ecologia comportamental que abordam a socialidade deste calitriquídeo. Vivendo em um ambiente com marcante variação sazonal de chuvas e seca, com reduzida oferta de recursos, acredita-se que o C. penicillata desenvolveu mecanismos comportamentais flexíveis para a reprodução. Estes mecanismos são particularmente intrigantes, quando se considera o alto custo reprodutivo para fêmeas, um sistema de acasalamento monogâmico, o cuidado da prole estendido e o sistema hierárquico em que fêmeas subordinadas não se reproduzem. Este estudo objetivou investigar os mecanismos de hierarquização social em fêmeas de C. penicillata, com ênfase nos comportamentos sociais, na exploração de recursos alimentares e uso do espaço. Dois grupos de sagüis do cerrado foram observados pelo método de animal focal e registro instantâneo, de janeiro de 2006 a outubro de 2007, em diferentes fases do dia, no Jardim Botânico de Brasília. Foi observado o comportamento alimentar, o comportamento social e o uso do espaço de três fêmeas adultas de cada grupo. No primeiro grupo, duas fêmeas, uma considerada dominante e a outra subordinada, reproduziram. No segundo grupo, somente uma fêmea reproduziu e as relações de dominância foram menos freqüentes e explícitas. Embora a primazia alimentar por parte das fêmeas reprodutoras não tenha sido estatisticamente evidenciada, dominantes utilizaram-se da primazia de acesso a recursos alimentares, realizando maiores taxas de agonismo. Em ambos os grupos ocorreu o cleptoparasitismo em um teste com suplementação artificial com bananas. Embora as fêmeas dos dois grupos, principalmente a do grupo 1, apresentem maiores níveis de agressão, diferenças no perfil hormonal (estrógenos, progesterona e cortisol) não foram observadas, num contexto geral. Reprodutoras, no entanto, possuem maiores níveis de progesterona fecal quando comparadas a não reprodutoras. Sendo assim, as reprodutoras, as quais as demandas da reprodução são maiores, devem adotar estratégias comportamentais diferenciadas para a obtenção de recursos que possam suportar o alto custo reprodutivo. Estas estratégias não se refletem no perfil hormonal e nas freqüências dos comportamentos alimentares, mas sim nos comportamentos sociais e em um uso espacial e temporal flexível dos recursos alimentares oferecidos. Na árvore de goma, o comportamento das fêmeas reprodutoras dentro de um mesmo grupo foi similar, porém a subordinada pareceu variar espaço temporalmente no uso dos recursos como a goma de forma a não disputar o mesmo recurso com a dominante. Além disso, a fêmea reprodutora parece assegurar o consumo da melhor goma a ser consumida por chegar primeiro à arvore e por utilizar preferencialmente os locais da árvore com maior número de escarificações ativas e mais seguras em relação a predadores. Fases de maiores e menores demandas energéticas, devido ao alto custo reprodutivo, não alteram o comportamento das fêmeas na arvore. As fêmeas apresentaram comportamentos e uso do espaço semelhantes em ambas as estações, com exceção de que o comportamento parado foi maior na estação seca. A área de uso parece ser bem delimitada para cada grupo e não parece sofrer variações em função da sazonalidade. Maiores freqüências do comportamento parado na estação seca podem estar relacionadas a fatores como a termoregulação ou a predação. As freqüências para cada um dos comportamentos realizados pelas fêmeas parecem indicar que cada animal possui uma estratégia individual diante das oscilações ambientais e sociais Estudos abordando as relações entre o comportamento de machos e fêmeas, outros aspectos fisiológicos (peso, hemograma, parasitologia) e ainda o grau de parentesco entre os animais de um determinado grupo e entre grupos que utilizam uma mesma área podem auxiliar na complementação dos resultados aqui descritos.

ASSUNTO(S)

hierarquia custo reprodutivo cerradoss marmoset feeding superiority hierarchy primazia alimentar ciencias biologicas sagüi do cerrado reproductive costs

Documentos Relacionados