Sob a condição de não-falar de uma criança : a escrita de caso JM / A child s non-speaking condition : writing JM s case

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Neste trabalho realizo uma reflexão sobre minha trajetória na clínica fonoaudiológica a partir de um relato do atendimento de um menino, JM, com diagnóstico neurológico de psicose/autismo. Nos três primeiros capítulos faço um levantamento crítico da literatura médica e fonoaudiológica sobre os atrasos de linguagem e o autismo e me dedico, também, à análise da perspectiva pragmática do processo terapêutico fonoaudiológico, a partir de noções teóricas advindas tanto da abordagem interacionista em aquisição de linguagem (DE LEMOS, 1982) quanto da neurolingüística discursiva (COUDRY, 1986/1988). Essas duas perspectivas, mais as formulações da clínica de linguagem (LIER-DE VITTO, 1994), constituíram os textos pelos quais circulei durante o acompanhamento de JM. Ao voltar-me para a escrita do caso, as posições de clínico e de investigador revelaram-se diferentes, já que somente no só depois, como investigadora, refleti a respeito de minha interpretação dos silêncios, das produções orais e dos gestos da criança na qual se revela não "o ato que se faz quando se fala", leitura possível de uma perspectiva pragmática, mas sim "o que a fala faz". Nesse sentido, a direção do tratamento de JM esteve imbuída pela noção de funcionamento da língua - sua anterioridade lógica ao sujeito -, no encontro com o singular de uma fala. Os dois últimos capítulos focalizam a fala de JM em seu caminho no processo de aquisição da linguagem, com destaque para as mudanças estruturais ocorridas, nas quais fragmentos incorporados de minha fala passaram por outras combinações e resultaram em enunciados que revelaram sua determinação pelas leis da linguagem, ou seja, os processos metafóricos e metonímicos (DE LEMOS, 2002). O fato de esse percurso da criança pela linguagem se pautar sobre a narrativa de um menino que foi sendo constituída nas práticas com a linguagem, discursivamente orientadas (COUDRY, 2002) - brincadeiras e dramatizações, faz-de-conta, leituras de livros - desenvolvidas durante as sessões, permite inferir que a questão da formação do sintoma na criança esteve fortemente presente para mim no processo terapêutico empreendido. A dissolução do sintoma de não-falar, ao menos a sua passagem para outro, é trazida na conclusão da tese quando, ao reencontrá-lo anos depois de terminado o acompanhamento fonoaudiológico, verifico que, de fato, se deu o esquecimento necessário da fala infantil (FREUD, 1889/1994; PEREIRA DE CASTRO, 2006). No entanto, ela retorna sob outra condição - por meio de hesitações e de um lapso de JM - e aponta para um sujeito da linguagem. A constatação de minha implicação no caso (LEMOS, 2002) vem do fato de, ao escrevê-lo, ele passar a existir em razão de meu desejo de que uma criança não fosse anônima

ASSUNTO(S)

autismo pragmatica fonoaudiologia neurolinguistica clinica de linguagem autism pragmatics speech therapy neurolinguistic language clinic

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