Reflexões sobre a história de vida e o processo terapêutico fonoaudiológico de adolescentes autistas / Reflections on the life history and speech and language therapeutic process of autistic adolescents

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

23/02/2010

RESUMO

Todas as famílias, quando aguardam o nascimento de um bebê, se preparam para cuidar de uma criança com desenvolvimento normal. Nos casos de crianças autistas o imaginário e o funcionamento familiar ficam abalados, podendo modificar assim a maneira de interagir, de demandar e de sonhar com a criança, reduzindo a oferta social e a intensidade das relações intersubjetivas dos pais com o filho autista. Todas essas dificuldades sociais vivenciadas pelos sujeitos autistas podem acentuar os prejuízos em seu desenvolvimento e formação enquanto ser humano, uma vez que, estudos pautados na abordagem histórico-cultural mostram que o meio social é determinante para o desenvolvimento humano transformando o ser biológico em ser cultural. Os acontecimentos e o modo como a família interage e media as relações do sujeito com o mundo vão construindo um "tecido narrativo da vida", permeado por significações, desejos, sentimentos, lembranças e constituindo gradativamente o bebê, a criança e posteriormente o adolescente enquanto ser humano com funcionamento lingüístico-cognitivo próprios da espécie e da cultura em que vive. No caso dos adolescentes autistas a história de vida pode estar impregnada de significações e fazeres sociais próprios da patologia, tanto advindos do substrato orgânico quanto no grupo social, impactando negativamente o desenvolvimento dos sujeitos autistas. Na medida em que as áreas médicas e terapêuticas visam minimizar as dificuldades das pessoas com autismo passa a ser relevante então conhecer a história de vida desses indivíduos para pensar atuações eficazes. Objetivo geral foi analisar processos dialógicos de dez adolescentes autistas durante relatos de suas histórias de vida. E os objetivos específicos: investigar indícios de experiências que eles vivenciam no cotidiano e dizeres sociais impregnados em seus discursos orais, buscar subsídios para o pediatra e o fonoaudiólogo trabalhar com a família a fim de impulsionar o desenvolvimento desses sujeitos. O método foi qualitativo, de caráter observacional participante, pautado no referencial teórico histórico-cultural e no paradigma indiciário. Para coleta de dados foram realizadas e vídeo-gravadas duas sessões fonoaudiológicas individuais de trinta minutos cada, voltadas para a história de vida, com nove adolescentes autistas, entre doze e dezessete anos. Os dados foram transcritos ortograficamente e foneticamente, quando necessário. No primeiro artigo os dados evidenciaram que os adolescentes autistas vivenciam festas de aniversário, viagens em família, convívio com parentes próximos e distantes, acesso música e televisão e atividades religiosas, demonstrando, em seus discursos, que tais experiências sociais lhes foram significativas. Ficou explicito também que as duas fontes de inserção social desses sujeitos são os pais e a escola especial, que muitas vezes os infantilizam levando-os a interessar-se por atividades infantis. Além disso, os resultados permitiram analisar a importância da história de vida e o trabalho com fotografias pessoais para a atuação fonoaudiológica, uma vez que, proporcionam ao sujeito autista a organização dos fatos de sua vida e a sofisticação do desenvolvimento da linguagem e aos pais a (re) significação do filho enquanto adolescente com potencialidades. O segundo artigo mostrou que os eixos temáticos encontrado nos dados são: atividades de lazer, escolaridade, grupo social, fatos da infância, vivências da adolescência, interesses pessoais. Já os resultados do terceiro artigo mostraram que os sujeitos apresentam protonarrativas, na medida em que dependem das questões do interlocutor para relatar os fatos e entrar na dinâmica do "jogo de contar". Os dados evidenciaram também que eles utilizam gestos e repetições para o processo de manutenção do dialogo, demonstrando que, durante a interlocução, não são alheios ao interlocutor. Assim, é possível dizer que os interlocutores dos sujeitos autistas têm papel fundamental no diálogo com esses sujeitos, contribuindo para que eles ampliem a participação lingüística e social. A partir das análises é possível concluir que o trabalho com relatos de história de vida permite rico espaço de interlocução e desenvolvimento lingüístico de sujeitos autistas, configurando-se como importante estratégia fonoaudiológica para essa população

ASSUNTO(S)

transtorno autistico linguagem fonoaudiologia grupos sociais adolescentes autistic disorder language speech language and hearing sciences social group adolescents

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