Redes de cooperação no pequeno varejo : a construção social dos mercados de hortifrutigranjeiros no Rio Grande do Sul

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

O presente trabalho investigou os principais fatores que levaram parte dos pequenos comerciantes do varejo alimentar a construírem redes de cooperação, a influência destas organizações na estruturação dos varejos locais e as repercussões destes processos sobre os produtores e a produção local de hortigranjeiros (FLV). Buscou-se na sociologia econômica, em especial na desenvolvida por Pierre Bourdieu e Neil Fligstein, a teoria e os conceitos básicos para a análise do fenômeno do surgimento destas organizações no contexto da construção social dos mercados locais de alimentos. Através deste arcabouço teórico estudouse como as disposições dos atores do pequeno varejo são condicionadas pelo campo do varejo local, bem como a forma como as suas práticas também influenciam a estruturação destes espaços. A pesquisa empírica é composta por dois estudos de caso no Rio Grande do Sul: o campo do varejo de Santa Maria, na região central do estado, onde foram estudas as redes de cooperação Rede Super e a Unimercados; e o campo do varejo de Santa Rosa, situada na região noroeste do estado, onde foi estudada a rede de cooperação CNS. Além das redes, foram estudados os principais atores com os quais elas se relacionam, no caso os supermercados Carrefour e a empresa supermercadista Rede Vivo, ambas concorrentes das redes de Santa Maria; e as organizações dos agricultores que fornecem FLV para as redes e outras empresas, APRHOROSA (associação de produtores de FLV de Santa Rosa) e a Coopercedro (cooperativa de produtores de FLV de Santa Maria). Entre as conclusões do trabalho está a confirmação da importância da teoria sobre a construção social dos mercados para revelar a transformação das disposições dos atores e as suas causas, bem como a influência das mudanças no comportamento dos mesmos nas relações entre varejo e fornecedores, com destaque para os produtores locais. A invasão dos varejos locais por grandes cadeias supermercadistas condicionou os pequenos varejistas que apresentavam disposição para participar do jogo do varejo a organizarem-se em redes a fim de conseguirem preservar suas posições estruturais. Os que não tinham tal disposição, bem como os que não contavam com recursos (capital) para enfrentar as pressões do campo de poder, tornaram-se marginalizados. Quanto a quem são os construtores das redes, concluiu-se que se tratam de pequenos comerciantes dinâmicos, que não têm habitus de comerciantes tradicionais, mas de comerciantes sintonizados com as transformações do campo. Uma segunda conclusão importante é a de que o pequeno varejo que emerge com as redes é plenamente integrado às regras e à cultura dos varejos locais em que participam, tanto nas práticas de relacionamento com os concorrentes, quanto com os fornecedores. Por outro lado, o pequeno varejo tradicional e as feiras livres se enfraquecem na medida em que tentam sobreviver disputando o mesmo espaço das redes, porém com práticas defasadas. Por fim, quanto à questão central da tese referente à inserção dos agricultores familiares no varejo estruturado moderno, concluiu-se que eles necessitam acima de tudo fortalecer-se nas relações de poder, o que envolve agregação de capitais comercial, tecnológico, cultural, simbólico e principalmente social. Desta forma eles podem ser reinseridos no mercado e a trajetória a partir de então tende a transformar seu habitus, lentamente, como ocorreu com os pequenos comerciantes varejistas na sua trajetória na construção do varejo local com a rede.

ASSUNTO(S)

redes de desenvolvimento rural social construction of the markets rio grande do sul cooperação agrícola alimentary system dynamics cooperation in the small retail horticultura agricultura familiar family farmers comercialização agricultural development

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