Desafio de ensinar-aprender matematica no curso noturno : um estudo das crenças de estudantes de uma escola publica de Belo Horizonte

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1998

RESUMO

A realidade do aluno que, por necessidade ou opção, estuda à noite, envolve a consideração de inúmeros aspectos, que, geralmente têm sido desconsiderados pela maioria das pesquisas acadêmicas e órgãos governamentais. Com a mudança do turno de estudo, não apenas a idade da clientela é diferente. Toda uma gama de experiências de vida, expectativas, objetivos, necessidades e dificuldades se configura. Dentro deste contexto se desenvolve a aprendizagem da Matemática. Este aluno, geralmente trabalhador, cotidianamente se depara com Inúmeras situações onde a Matemática é solicitada e, na maior parte das vezes, soluciona-as satisfatoriamente. Contudo, na escola, quando questões semelhantes são apresentadas, muitas vezes, ele não consegue resolvê-Ias. A aprendizagem desta disciplina, para muitos associa-se à medo, dificuldade e desânimo. As crenças que os indivíduos mantêm orientam, em grande medida, seu comportamento e suas atitudes. Elas são uma espécie de filtro cognitivo com o qual as pessoas avaliam e se relacionam com as situações. Nesta pesquisa exploratória tratamos das seguintes questões: Quais são as crenças dos estudantes em relação à Matemática, seu ensino e aprendizagem? Que relações existem entre essas crenças, o desempenho e auto-estima desses alunos? Contudo, embora analisemos alguns elementos, não pretendemos, nem seria possivel, esgotar o tema neste estudo. Cinco estudantes de uma escola municipal noturna da periferia de Belo Horizonte participaram deste estudo. Cada um deles deu origem a um estudo de caso, onde sua história de vida, suas experiências com a Matemática e suas crenças sobre esta disciplina e sobre si mesmo enquanto aprendiz, foram considerados. Os instrumentos utilizados foram: entrevistas individuais semi-estruturadas, questionários e textos produzidos pelos alunos, observações dos mesmos durante as aulas de Matemática, análise de documentos da secretaria da escola e uma entrevista coletiva de aprofundamento. Através de contraste e comparação, as crenças levantadas em cada estudo de caso foram organizadas em três categorias: crenças em relação à Matemática, crenças em relação ao processo de ensino-aprendizagem desta disciplina e crenças acerca do contexto sócio-cultural. Os resultados encontrados apontam para uma visão utilitarista da Matemática, na qual os conteúdos somente são considerados importantes quando se mostram úteis à vida cotidiana: seja em problemas do dia-a-dia ou em exigências profissionais e acadêmicas. Além disso, os estudantes acreditam que todo o processo de ensino-aprendizagem depende quase unicamente deles e que, como todas as pessoas são inteligentes e aprendem do mesmo modo, basta que cada um se esforce, se interesse e cumpra com suas obrigações para ser capaz de aprender Matemática. A interação professor -aluno é vista como essencial neste processo. Aos professores, entretanto, fica reservado apenas o papel de amigo, atento e paciente, disposto a repetir quantas vezes forem necessárias para que todos aprendam. Destaca-se aqui um aspecto importante e geralmente pouco considerado na literatura: a influência das condições sócio-culturais sobre a aprendizagem da Matemática. Fínalmente, esta pesquisa torna-se mais uma comprovação de quão pouco sabemos sobre as crenças de nossos alunos e professores e da necessidade da realização de trabalhos nesta área em nosso país

ASSUNTO(S)

estudantes escolas noturnas

Documentos Relacionados