Corpos femininos superfície de inscrição de discursos : mídia, beleza, saúde sexual e reprodutiva, educação escolarizada...

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Nesta dissertação investigo a rede de discursos que inscrevem os corpos femininos de mulheres integrantes do Movimento Solidário Colméia, do município do Rio Grande/RS, quando participaram do curso “Mulher e Cidadania”. Neste estudo, tomo o corpo e o gênero como invenções produzidas no âmbito cultural, social e histórico, implicados em sistemas de significação e relações de poder. Na perspectiva de discutir e problematizar como determinados discursos e práticas inscrevem diferentes marcas nos corpos, ensinando costumes, valores, crenças, maneiras de perceber a si, de ser e de agir como mulheres e de pensar e atuar com relação aos seus corpos, estabeleço algumas conexões com os Estudos Culturais e de Gênero, nas suas vertentes pós-estruturalistas, e com proposições de Michel Foucault. O curso funcionou como um espaço narrativo, no qual as mulheres participaram de um processo de contar e ouvir algumas histórias a respeito de suas vidas. Essa estratégia também teve como objetivo desestabilizar e desnaturalizar as histórias narradas e, eventualmente, modificar os significados atribuídos ao corpo, ao gênero e à sexualidade por essas mulheres. Dele participaram 20 mulheres, com idades entre 18 e 60 anos, as quais estão em processo de escolarização e qualificação profissional. Essas mulheres vivem abaixo da linha de pobreza, desconhecem os seus direitos sociais, muitas delas oprimidas dentro do contexto familiar, convivendo com situações de violência física e/ou sexual. A estratégia de análise consistiu em “olhar” nas narrativas das mulheres o que elas contam sobre suas vidas, sobre suas relações familiares e sociais, sobre seus corpos, sobre a sua saúde reprodutiva e sexual, seus sentimentos, suas crenças, valores. A análise das narrativas possibilitou-me entender o sujeito como constituído a partir de diversas instâncias sociais – como a família, a escola, a mídia, a igreja, o hospital – e artefatos culturais – os programas de TV, as novelas, as revistas, os anúncios publicitários, as campanhas de saúde, as músicas. Ficou evidenciado neste estudo que as representações de corpo feminino produzidas e veiculadas nos meios de comunicação de massa interpelam e produzem nas mulheres pesquisadas, o desejo de ser de determinada maneira, de reconhecer-se e de pensar de determinado jeito e ter vontade de “consumir” certos produtos. Elas também estão sendo inscritas por significados que circulam nas campanhas voltadas à prevenção de doenças e promoção da saúde, que interferem nas suas escolhas pessoais, estabelecendo como podem ou devem agir para viver suas vidas de forma mais saudável. Também foi possível problematizar as representações naturalizadas de gênero, por exemplo, o pressuposto de que a função “natural” da mulher é ser mãe, esposa, cuidar da casa, dos filhos e marido. Tais representações estiveram implicadas nos motivos pelos quais algumas dessas mulheres não tiveram acesso à escola ou nos motivos que impossibilitaram a continuação dos seus estudos.

ASSUNTO(S)

body saúde sexual e reprodutiva sexualidade feminina gender narratives corpo humano estudos culturais : analise do discurso cultural studies and of gender estudos culturais : gênero

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