Validação da escala de pensamentos castróficos e associação do catastrofismo com marcadores biológicos

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

2012

RESUMO

Base teórica: A dor crônica decorre de alterações estruturais e funcionais mal adaptativas que influenciam a resposta ao estímulo ou que sustentam os processos de excitabilidade. Um dos sintomas que permeia grande número de pacientes com dor crônica é a catastrofização, cujas características são um conjunto de pensamentos negativos, deseperança e magnificação do sintoma ou condição. Este sintoma é mensurado por meio de uma escala de catastrofização usada em vários países. No entanto não dispomos deste instrumento validado para o português.Objetivos: Validar para o português do Brasil (B) a PCS e verificar suas propriedades psicométricas. Verificar a consistência interna, estrutura fatorial, e sua capacidade de discriminar pacientes com condições específicas de dor crônica como cefaleia tensional crônica (CTC) (International Headache Society) e fibromialgia de acordo com os critérios do American College of Rheumatology. Avaliar os possíveis mecanismos neurobiológicos correlacionados com o nível de sintomas catastróficos, através de dosagens de cortisol e TNF em uma amostra de pacientes com CTC. Métodos: 384 sujeitos com idades entre 18-79 anos com dor crônica de origem músculo-esquelética participaram deste estudo transversal. A versão da B-PCS foi aplicada, assim como a intensidade da dor, interferência da dor na capacidade funcional, no humor e um questionário sócio-demográfico. A capacidade discriminatória da B-PCS foi avaliada numa sub-amostra de pacientes com cefaléia tensional crônica (CTC) de acordo com os critérios da International Headache Society (n = 19), e em outro com diagnóstico de fibromialgia segundo os critérios do American College of Rheumatology (n = 50). Após a validação a B-PCS foi aplicada num grupo de pacientes com CTC. Foi avaliado o impacto da cefaleia usando o Short-Form Headache Impact Test (HIT-6), coletadas amostras de cortisol salivar às 08:00; 16:00 e 22:00 e dosado o TNF sérico. Resultados: Observou-se boa consistência interna [valores ¿ de Cronbach de 0,91 para o total da BR-PCS. Para os subdomínios 0,93 (desesperança), 0,88 (magnificação), 0,86 (ruminação)]. Os coeficientes de correlação item-total variaram 0,91-0,94. Análise fatorial confirmatória apoiou os três fatores de estrutura, com o índice de ajuste comparativo = 0,98, a raiz quadrada média do erro de aproximação = 0,09, e índice de ajuste normalizado = 0,98. Foram encontradas correlações significativas para a intensidade da dor, interferência da dor e humor do paciente (coeficientes de correlação variaram 0,48-0,66, P <0,01). Nas comparações entre grupo controle (pacientes com escores de dor na VAS igual ou inferior a 40 mm na maior parte do dia nos últimos seis meses), e pacientes com condições dolorosas específicas observou-se pontuações mais baixas de catastrofização no grupo controle. No grupo com CTC a relação entre a curva de cortisol salivar, obtida em três pontos do dia (08:00, 16:00 e 22:00 horas) e a catastrofização de acordo com os grupos de catastrofização ( escores B-PCS) estratificados em níveis alto e baixo (alto>Q75 = 42 ou baixo Q75 <42 ), utilizou-se análise de variância de medidas repetidas (ANOVA), com teste post hoc de Bonferroni. Pacientes com altos escores de catastrofismo apresentaram supressão da secreção de cortisol às 08:00 (p <0,05). Usando modelo multivariado de regressão linear, os fatores correlacionados positivamente com a variável dependente (escores da B-PCS) foram os fatores independentes: níveis séricos de TNF, pontuação no HIT6 e idade (p <0,05). O uso de antidepressivos reduziu em 21% o incremento nos escores da B-PCS. Conclusão: Nossos resultados suportam a validade e confiabilidade da B-PCS. A escala mostrou propriedades psicométricas satisfatórias. A estrutura de três fatores apresentou boas propriedades discriminatórias na comparação de pensamentos catastróficos de sujeitos controles, fibromiálgicos e CTC. A B-PCS mostrou-se instrumento com perfil satisfatório para uso em pesquisa e clínica no Brasil. Também, observamos que a catastrofização está correlacionada com o impacto da CTH, menor oscilação circadiana na secreção de cortisol salivar e níveis séricos de TNF. Isto sugere que o comportamento catastrófico possui substrato biológico que indica sua associação com o estresse crônico e resposta inflamatória.

ASSUNTO(S)

dor crônica catastrofização catastrophizing chronic pain pain catastrophizing scale cefaléia do tipo tensional tension type headache cortisol tnf

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