Quando o professor se torna aluno: tensões, desafios e potencialidades da formação em serviço / When the teacher becomes a student: tensions, challenges and potentialities for in-service education

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

O trabalho teve por objetivo investigar processos formativos inerentes à condição de aluno do professor, em um programa de educação em serviço, da perspectiva do processo de socialização/educação familiar e escolar. Busca analisar as relações entre os ofícios discente e docente quando exercidos de forma simultânea, examinando em que medida viver tal situação favorece processos de formação docente mais significativos, e verificar as implicações dessa formação no trabalho do professor, na escola. A pesquisa é de natureza qualitativa. O trabalho etnográfico envolveu observações em contextos de ensino on-line e off-line durante 18 meses. O referencial empírico foi o PEC Formação Universitária Municípios/São Paulo (2003-2004), caracterizado como um curso presencial com forte apoio de mídias interativas, que teve por finalidade oferecer a licenciatura plena aos docentes que tinham apenas a formação para o magistério em nível médio. Os dados da investigação constituíram-se de documentos oficiais, notas de campo, entrevistas, além de um conjunto de memórias produzidas pelos professores. O referencial teórico fundamenta-se na teoria do habitus de Bourdieu, problematizada por alguns de seus críticos contemporâneos. Os resultados obtidos apontam que os professores, em determinadas ocasiões, recorrerem às artimanhas de alunos para enfrentar as exigências do curso, afastando-se do que formalmente deles se espera quando investidos no ofício discente. Tais comportamentos estão relacionados a diversos fatores que no contexto investigado se mostraram mais associados a determinadas modalidades de ensino, ao habitus escolar e às condições de existência do professor, tal como a escassez de tempo decorrente da dupla ou até tripla jornada de trabalho. Por outro lado, vivenciar tais situações incitou os professores a refletirem sobre o exercício dos ofícios discente e docente, facultando-lhes compreender vários aspectos tanto das condutas quanto dos processos de aprendizagem de seus alunos. Além disso, permitiu-lhes o entendimento de algumas de suas práticas docentes, sobretudo no que diz respeito às atitudes em relação ao aluno e à proposição de certas atividades escolares. Muitas dessas reflexões surgiram a partir de um processo formativo não previsto pelo programa, possibilitado pelo que foi chamado neste trabalho de simetria invertida às avessas. Tendo em vista as relações com o tutor e a experiência de certas atividades, notadamente as avaliações, os alunos-professores observavam, e aprendiam, o que não deveriam fazer em sala de aula, em virtude do baixo ou inadequado potencial formativo de tais situações de aprendizagem, contrariando assim o princípio da simetria invertida, um dos eixos do modelo focalizado. As análises revelaram que o contexto em estudo fez aflorar aspectos latentes da cultura escolar, explicitados especialmente nas tensões entre o ofício de aluno e o de professor, recolocando em pauta o exame sobre as potencialidades e expectativas da formação em serviço.

ASSUNTO(S)

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