Praticas de leitura na infancia : do limite a trangressão

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2004

RESUMO

O presente estudo teve por objetivo compreender as práticas, as imagens e as representações da leitura construídas na inrancia. Busquei entender como as crianças fazem uso da leitura no cotidiano em que vivem, dentro ou fora da escola. Baseando-me nos estudos de Certeau (1994) sobre as práticas culturais, escolhi pesquisar meu próprio trabalho de professora da Educação Infantil. Ao construir uma relação com os estudos da História Oral (Thompson: 1992, Pollack: 1992 e Portelli: 1997) busquei entender os relatos das crianças e de suas famílias à luz das pressões sociais que os envolvem, ou ainda, como nos diz Bakhtin (2002), procurando estar atenta ao contexto enunciativo em que eles foram produzidos. Ancorando-me nos estudos da História Cultural (Chartier: 1996 e Hébrard: 1996) pude entender os discursos escolares e extra-escolares os quais tentam revelar, exortar e prescrever a "boa - leitura". As histórias de leitura vividas pelas crianças e por suas famílias revelaram uma preocupação com a continuidade da experiência vivida na escola e o desejo de se estabelecer elos entre essa experiência e o cotidiano vivido fora da instituição. No ato de reconduzir os sujeitos às suas operações, pude perceber que eles não se identificam com uma imagem de não-leitores, pois relatam diferentes situações nas quais as práticas de leitura se concretizam. As representações de leitura na infância são formuladas, entre outros fatores, pelas experiências religiosas, e ainda pelos ritos envolvidos nessas práticas religiosas. Os gestos e os ritos que as envolvem mantêm relação com um discurso histórico da leitura: a Igreja como mediadora e reguladora da chamada "boa leitura". Cenas de leitura, vividas na escola deixaram vestígios de que a prática da leitura individual/privada, quando realizada em um espaço público, é ambígua e mista, podendo haver troca e interação. As práticas de letramento vividas pelas crianças fora da escola apontaram para uma preocupação com a alfabetização - um valor herdado da escola - e também com os usos sociais da leitura e da escrita. De geração em geração: a sacralização da leitura e da escrita relaciona-se com o poder destas práticas em nossa sociedade. Finalmente, pude perceber que a prática orientada da leitura não impede as crianças de afirmarem seus desejos e valores - ainda que isso aconteça nas brechas. As crianças buscam diferentes formas de experimentar a leitura, dialogando com as diferentes vozes plenivalentes que constituem os discursos dessa prática.

ASSUNTO(S)

escrita cultura leitura historia

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