O Passado Negro : a incorporação da memória negra da cidade de Campinas através das performances de legados musicais / The Black Memory : the embodiment of black memory of Campinas through performances of musical legacies
AUTOR(ES)
Erica Giesbrecht
FONTE
IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
DATA DE PUBLICAÇÃO
19/04/2011
RESUMO
A crescente proliferação de grupos performáticos, que, através de manifestações culturais, divulgam "passados", convencionalmente chamados de "tradições culturais", tem rendido estudos e debates no campo da etnomusicologia em todo o mundo. Partindo da etnografia de grupos de cultura popular afro-brasileira sediados na cidade de Campinas - São Paulo, proponho uma reflexão sobre as dinâmicas que particularizam tal processo ali. No auge da economia cafeeira do Brasil no século XIX, a cidade foi um pólo produtivo, concentrando um grande contingente de escravizados a quem se atribui atualmente a criação de diversos estilos musicais. Entretanto os atores da conjuntura atual não descendem necessariamente daqueles escravizados, não pertencem a uma comunidade isolada ou a grupos familiares demarcados. Performando um legado musical atribuído àqueles escravos, esses grupos - dentre os quais acompanhei o Urucungos, Puítas e Quijêngues, a Casa de Cultura Nação Tainã, o Jongo Dito Ribeiro, e o grupo Maracatucá - nos colocam uma questão: por que grupos "não tradicionais" se interessam pelos chamados repertórios tradicionais, escolhendo, pesquisando e recriando suas performances? Sem eliminar outras possíveis respostas, defendo que as performances desses grupos engendram a intencional incorporação desse "passado negro" através de sua música, devolvendo aos corpos de seus participantes o controle sobre si mesmos. Usamos esta expressão, "passado negro", quando não queremos reconhecer acontecimentos de nosso passado que nos causam desconforto no tempo presente. Ambiguamente essa expressão também sintetiza tudo o que se relaciona à memória dos escravos da Campinas do século XIX. Renegado por uma cidade que ostenta um cenário urbano modernizado e essencialmente branco, esse passado aflora nos cabelos, nos tecidos, na cultura, na dança e na memória reconstruída de transeuntes negros que, por meio da performance, (re)enegrecem. Apropriar-se deste legado cultural através da performance significa remexer nas cinzas do esquecimento; é opor-se aos processos de exclusão do presente juntando-se a uma história e uma memória maior e desenterrando um passado trágico para que jamais seja esquecido
ASSUNTO(S)
performance (arte) memoria coletiva cultura popular musica afro-brasileira performance art collective memory popular culture afro-brazilian music
ACESSO AO ARTIGO
http://libdigi.unicamp.br/document/?code=000806188Documentos Relacionados
- HISTÓRIA DAS CASAS COMO HISTÓRIA DA CIDADE: Um estudo da memória urbana de Fortaleza através da memória de moradores antigos do Centro
- O RUFAR DAS CAIXAS: SINCRETISMO E IDENTIDADE NEGRA EM CATALÃO ATRAVÉS DAS CONGADAS
- CLUBES SOCIAIS NEGROS: LUGARES DE MEMÓRIA, RESISTÊNCIA NEGRA, PATRIMÔNIO E POTENCIAL
- Emblemas sonoros, emblemas da memoria
- Novas tecnologias a serviço da reconstrução da memoria urbana : prototico de sistema interativo hipermidia : cidade e memoria - cidade de Campinas