Nós, os fabulistas : o pensamento baseado na oralidade e as narrativas de Guimarães Rosa

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar a obra de Guimarães Rosa a partir do aproveitamento que o autor faz de elementos provenientes de uma cultura oral. Para tanto, são analisadas as estórias “Entremeio com o vaqueiro Mariano”, de Estas estórias, “Pé-duro, chapéu-de-couro”, de Ave, palavra, “Três homens e o boi dos três homens que inventaram um boi”, de Tutaméia, “Cara-de-Bronze” e “O recado do Morro”, de No Urubuquaquá, no Pinhém, e “Uma estória de amor”, de Manuelzão e Miguilim. A escolha dessas narrativas diz respeito ao fato de que as mesmas são ilustrativas do projeto do autor em recriar a literatura de tradição oral, mas também de recriar a situação de enunciação e de divulgação de narrativas que existem em um contexto de oralidade. Além da linguagem, que não é o foco desta pesquisa, o autor valoriza a importância da palavra proferida por seus porta-vozes e a maneira como ela é transmitida, bem como o efeito que ela causa em seus espectadores, através da performance. Para explorar uma espécie de “episteme do pensamento sertanejo”, Rosa constrói um discurso autoral que visa a reforçar seu engajamento com tudo aquilo que provém do sertão, dando credibilidade e verossimilhança ao que é ensinado através das narrativas. O autor apropria-se de um universo popular sem que o resultado disso seja uma produção “artificial” ou simplesmente descritiva, sob um ponto de vista intelectual, distanciado. Dada essa fusão entre popular e erudito e entre oral e escrito, optou-se por recorrer a teóricos preocupados em discutir tanto o comportamento das produções artísticas de caráter oral e as condições de sua produção (como Paul Zumthor, Walter Ong, Peter Burke, André Jolles, Câmara Cascudo) quanto as estratégias ficcionais utilizadas pelo autor para satisfazer seus propósitos (com base nas teorias e nos argumentos de Paul Ricouer, Walter Benjamin, Mikhail Bakhtin, Wolfgang Iser, entre outros). Assim, foi possível perceber que Guimarães Rosa transita entre o popular e o erudito, na medida em que recorre a ambos para compor suas narrativas. Muito mais do que diferenças, o autor demonstra que a fixação do texto na escrita não impede que as situações de oralidade (que privilegiam a troca de experiências entre grupos que compartilham valores, crenças e costumes) deixem suas marcas na leitura silenciosa e solitária que um livro exige.

ASSUNTO(S)

rosa, joão guimarães, 1908-1967 guimarães rosa literatura brasileira critica e interpretacao implied author oralidade oral discourse narrative narrativa performance

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