Evolução neoproterozóica do grupo Ceará (domínio Ceará Central, NE Brasil): da sedimentação à colisão continental brasiliana

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

A Província Borborema (Nordeste do Brasil) exibe o registro de uma evolução geológica precambriana policíclica complexa, iniciada no Arqueano e encerrada, ao final do Neoproterozóico, com a orogenia Brasiliana/Pan-Africana. É a continuação, na América do Sul, da Província Benin/Nigéria (África do Oeste) que apresenta com ela notáveis semelhanças geológicas. A orogenia Brasiliana/Pan-Africana foi responsável, entre 660 e 570 Ma, pela amalgamação final de Gondwana Ocidental. Na África do Oeste, a identificação de zonas de suturas materializadas por rochas metamórficas de alta pressão e seqüências ofiolíticas e de arcos magmáticos oceânicos deixa claro o caráter colisional dessa orogenia que envolveu os cratons São Luis-Oeste Africa e São Francisco-Congo. No nordeste do Brasil, o caráter colisional ou não dessa orogenia ainda é polemico. Por entender que a evolução das coberturas metassedimentares da Província Borborema, do início da sua deposição ao seu envolvimento na orogenia brasiliana, é um elemento chave na compreensão da formação de Gondwana, resolvemos estudar detalhadamente uma porção do Grupo Ceará, extensa seqüência metassedimentar aflorando no Domínio Ceará Central (sub-província Borborema Setentrional). Os resultados apresentados nesta tese representam uma síntese das informações colhidas durante o mapeamento, na escala de 1:100.000, de uma área de cerca de 5.200 2 onde as relações entre Grupo Ceará e embasamento arqueano/paleoproterozóico são km particularmente bem expostos. Esses dados foram complementados por um estudo geocronológico combinando dados isotópicos Sm-Nd (idades modelo) e datações de grãos de zircão e monazita pelos métodos U-Pb convencional e U-Pb SHRIMP (grãos de zircão detrítico). Na região estudada, considerações ligadas a diferenças nas condições metamórficas, a existência de contatos tectônicos internos e a incongruências nas direções de transporte tectônico, materializadas por lineações minerais, resultaram na subdivisão do Grupo Ceará em cinco sub- unidades. Essa subdivisão tem valor local. Uma das subunidadea apresenta, intercalados nos metapelitos dominantes, frequentes níveis anfibolíticos. Esses anfibolitos, geralmente ricos em granadas, derivam de sills ou derrames (750) levemente positivos indicando que são derivados de basálticos com idade de ca. 750 Ma e Nd magmas com leve contaminação crustal. São correlacionáveis com metariolitos do mesmo Grupo, datados por outros autores em ca. 780 Ma. São representantes de um vulcanismo bimodal associado ao rifteamento do continente arqueano/paleoproterozóico. O registro desse episódio magmático foi identificado também nos grãos de zircão detrítico de uma amostra de metapelito que apresentou uma população com idade compreendida entre 800 e 750 Ma. Com o afinamento crustal decorrente do rifteamento, iniciou-se a sedimentação do Grupo Ceará. Os dados isotópicos Sm-Nd sugerem uma forte componente do embasamento na proveniência do material detrítico, com grande parte das idades modelo variando no intervalo 2.000/2.500 Ma e (750) francamente negativo. Entretanto, Nd alguns paragnaisses apresentam idades modelo mesoproterozóicas e (750) levemente negativos Nd ou positivos, mostrando que alguns horizontes foram alimentados essencialmente por material juvenil associado ao magmatismo do rift. A evolução progressiva do metamorfismo do Grupo Ceará durante a orogenia brasiliana, desde condições de fácies eclogítico até condições de fácies anfibolito de alta temperatura/baixa pressão, numa trajetória de sentido horário, mostra que esta seqüência foi envolvida numa subducção seguida de exumação, implicando, a exemplo do que aconteceu no Oeste Africano, num modelo colisional para a orogenia brasiliana. A datação de monazitas de mobilizados mostra que a migmatização aconteceu em torno de 610 Ma. A exumação do pacote de metassedimentos foi acompanhada da formação de um empilhamento de nappes sobre o embasamento arqueano/paleoproterozóico. A colocação final das nappes aconteceu em condições de fácies anfibolito baixo. A estruturação das nappes, com direção de transporte tectônico NNW-SSE e mergulhos baixos para W, difere totalmente da estruturação do embasamento que apresenta mergulhos baixos para SE e direções de transporte tectônico NNE-SSW. Esse contraste, na ausência de dados conclusivos, pode ser interpretado de duas maneiras: ou as nappes chegaram sobre um embasamento frio e estruturado durante o paleoproterozóico, deixando pouco registro dúctil brasiliano no autóctone, ou o embasamento conserva o registro de um episódio anterior da orogenia brasiliana, com cinemática de transporte diferente

ASSUNTO(S)

ceará central geocronologia geologia regional colisão brasiliana neoproterozóico

Documentos Relacionados