Estudo sobre a tolerancia oral em camundongos : a produção de anticorpos e atividades de celulas dendriticas

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2004

RESUMO

A administração de uma proteína solúvel por via oral é um dos meios mais efetivos de induzir a supressão da resposta imune sistêmica a antígenos protéicos, conhecida como tolerância oral ou de mucosas. No presente estudo, a tolerância oral à ovalbumina (OVA) foi analisada em camundongos BALB/c, selvagens e transgênicos (DO11.10), jovens, adultos, de meia-idade e velhos, utilizando-se protocolos de ingestão forçada (gavagem) ou voluntária (adicionada à água de beber) da proteína, aplicados por tempos variados. Tanto a gavagem como a ingestão voluntária de OVA induziram a tolerância sistêmica em camundongos BALB/c selvagens, de todas as faixas etárias avaliadas, de modo dose-dependente, conforme constatado pela produção reduzida de anticorpos séricos específicos, após o desafio antigênico por via parenteral. Entretanto, o tratamento oral com OVA não produziu o mesmo efeito nos camundongos transgênicos DO11.10, de qualquer das idades examinadas, muito embora esses animais tenham apresentado uma redução significativa no número de células do clonotipo KJ1-26, observada tanto no baço quanto no sangue periférico, após a ingestão da proteína. Nos camundongos BALB/c, o esquema de imunização parenteral com OVA, utilizando o hidróxido de alumínio como adjuvante, gerou preferencialmente a produção de anticorpos da classe IgG1, dependentes de linfócitos Th2, cujos níveis foram significativamente reduzidos pelo pré-tratamento oral com OVA. Nos camundongos transgênicos DO11.10, o mesmo esquema de imunização induziu uma resposta humoral mista, com a produção de anticorpos IgG2a e IgG1, dependentes das citocinas produzidas por linfócitos Th1 e Th2, respectivamente, cujos níveis não foram afetados pela prévia ingestão de OVA. Uma vez que camundongos BALB/c jovens tornaram-se tolerantes pela ingestão voluntária de OVA (4mg/mL, por 7 dias consecutivos), esse estado foi mantido por mais de 44 semanas e pôde ser revertido pela transferência adotiva de 6x10 células esplênicas naive, isoladas de camundongos jovens da linhagem selvagem. Entretanto, nos camundongos transgênicos DO11.10, a transferência adotiva do mesmo número de células esplênicas da linhagem selvagem, seguida por novo tratamento oral com OVA por ingestão voluntária, resultou em níveis ainda mais elevados de anticorpos séricos específicos. As células dendríticas (DCs) de camundongos BALB/c jovens tolerantes à OVA foram menos eficientes em sustentar a proliferação in vitro de células T naive, isoladas tanto de camundongos selvagens como transgênicos, do que as DCs de camundongos BALB/c imunizados apenas por via intraperitoneal (i.p.). As co-culturas de células T naive e DCs de camundongos tolerantes apresentaram níveis significativamente menores de citocinas liberadas por células com perfil Th1 (IL-2 e IFN-g) e Th2 (IL-4 e IL-10) do que as culturas realizadas na presença de DCs obtidas de camundongos BALB/c imunizados com OVA por via i.p. Por outro lado, as DCs de camundongos transgênicos DO11.10, alimentados ou não com OVA e desafiados com o antígeno por via i.p., foram igualmente eficientes em induzir a proliferação de células T específicas, assim como a secreção das citocinas IL-2, IFN-g, IL-4 e IL-10. Entretanto, a secreção de TGF- beta foi significativamente mais elevada nos sobrenadantes de cultura de células T naive co-cultivadas com as DCs de camundongos BALB/c tolerantes do que com as DCs de camundongos DO11.10 ou dos BALB/c imunizados por via parenteral. Os resultados obtidos no presente trabalho indicam que, em um sistema imune integro, a tolerância às proteínas da dieta se estabelece às custas das interações entre células apresentadoras de antígeno e células T, nas quais as proporções celulares e as moléculas estimuladoras resultantes estão em delicado equilíbrio. Alterações nesse balanço podem provocar, como observado no camundongo DO11.10, o desencadeamento de respostas imunes dirigidas contra o antígeno relacionado com a população linfocitária predominante, podendo resultar em doenças inflamatórias e alérgicas. Estudos mais aprofundados são necessários para entender a dinâmica dessas populações celulares na indução e manutenção da tolerância, para eventualmente utilizar esse conhecimento na reversão de manifestações autoimunes ou de hipersensibilidades ou ainda na prevenção da rejeição de transplantes.

ASSUNTO(S)

envelhecimento transgenes

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