Erros na aquisição da flexão verbal : uma analise interacionista

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2003

RESUMO

O presente trabalho buscou interpretar os erros de flexão verbal na fala de M de 1 ;07.23 a 3;04.30 à luz da teorização desenvolvida por De Lemos (1982 a 2002). Foram enfocados tantos os verbos regulares quanto os irregulares. Algumas descrições sobre os verbos irregulares e os paradigmas verbais do português foram apresentadas no Capítulo 2. As explicações oferecidas para a irregularidade verbal são variadas. Alguns autores recorrem ao latim para recuperar a evolução de um item verbal na língua. Muitas das irregularidades do radical do verbo relacionam-se de fato às transformações fonéticas sofridas pelo item. Observou-se que a divisão entre as conjugações, no pretérito perfeito, se dá entre a primeira conjugação e outra, formada pela junção da segunda e terceira conjugações. A realidade é que as descrições existentes concebem a língua como um produto e não como um processo, que é o que se busca contemplar em aquisição da linguagem. No terceiro Capítulo foram resenhados trabalhos importantes sobre a aquisição da flexão verbal na literatura. Em primeiro lugar, abordou-se o conexionismo, modelo teórico que centra suas discussões na aquisição dos verbos irregulares do inglês. Em seguida, o modelo de Annetle Karmiloff-Smith (1986, 1992) foi enfocado, pois propõe um tratamento para a aquisição da morfologia. Em seguida, dois trabalhos sobre o português foram trazidos: o de Figueira (1998,2003) e Perroni-Simões (1976). Com isso, pode-se traçar um paralelo entre os erros de flexão apresentados por M, sujeito desta pesquisa, com os outros por elas investigados. Perroni-Simões observa a predominância da primeira conjugação nos erros de flexão verbal, sendo que a explicação oferecida por ela concentra-se, no fato de ser esta, a conjugação mais regular do português, ou seja, propõe uma ordenação na aquisição verbal pela criança. Diferentemente, Figueira (1998) para seus sujeitos encontra a dominância da segunda e/ou terceira conjugação, nos erros verbais flexionalmente destoantes para um de seus sujeitos e, para o segundo sujeito, encontra um verdadeiro mosaico de formas, o que conduziu-a a pronunciar-se sobre o caráter imprevisível e contingente do erro. No Capítulo 4, o quadro teórico e a análise dos dados são apresentados. Os erros flexionais encontrados na fala de M indicam uma dominância da segunda e terceira conjugações. Mas apenas responder sobre a prevalência de uma das classes de conjugação representa abordar a questão parcialmente, pois o processo de aquisição da linguagem é um processo de subjetivação em que o sujeito e a linguagem formam uma unidade. As mudanças (lingüísticas e subjetivas) que se dão ao longo dó processo de aquisição da linguagem são mudanças de posição em uma estrutura, em que comparecem: o outro, a língua e o próprio sujeito. O recorte para a análise dos dados foi oferecida pelo modelo teórico. Verificou-se, na fala de M, formas verbais destoantes que retomam da fala do outro para a dela, o que se interpretou como sendo a primeira posição da criança na estrutura, marcada pela dominância pela alienação da fala da criança à fala do outro. Na segunda posição, caracterizada pela dominância do movimento da língua na fala da criança, foram também identificados erros na fala de M. Observou-se a movimentação das cadeias lingüísticas, que num jogo paralelístico, dão suporte às mudanças da fala de M. A colisão entre fragmentos na fala da criança permitem seu deslocamento na estrutura, da primeira para a segunda posição. Alguns episódios apontaram a impermeabilidade de M à correção do erro pelo adulto. Verificou-se, como era do interesse do trabalho, que os verbos regulares e irregulares estão submetidos aos mesmos fenômenos, tanto na primeira quanto na segunda posição. De várias maneiras os erros de flexão verbal concederam ao investigador o privilégio de flagrar, na fala da criança, o ponto de "conversão do discurso do outro em discurso próprio" ao longo do processo de aquisição da linguagem, processo de subjetivação, conforme apontado pela teorização desenvolvida por De Lemos (1982 a 2002).

ASSUNTO(S)

aquisição de linguagem gramatica comparada e geral - flexão erro

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