Disfunções cognitivas em sujeitos portadores de esquizofrenia no Brasil: amplitude, gravidade e relação com a demora no acesso ao tratamento médico / Cognitve dysfunctions in subjects with schizophrenia in Brazil: extent, severity and association with delay in the access to medical treatment

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Introdução: As psicoses funcionais são transtornos psiquiátricos cuja principal característica é a perda da capacidade de julgar apropriadamente a realidade em decorrência de alterações na esfera do pensamento, percepção, emoção, movimento e comportamento. A esquizofrenia é o principal destes quadros, com curso crônico e/ou deteriorativo nas esferas social e ocupacional, gerando enormes custos pessoais e financeiros para os pacientes e cuidadores em todo o mundo. Estudos prévios têm mostrado a existência de prejuízos cognitivos em pacientes com transtornos psicóticos já no início da doença, sendo estes mais graves na esquizofrenia. Há evidências de que estes prejuízos são tanto inerentes aos próprios processos da doença quanto secundários ao tratamento. O presente estudo procurou caracterizar o perfil cognitivo de pacientes com psicoses de início recente (n=56), até 3 anos após o primeiro contato com serviços de saúde mental, sendo 34 com esquizofrenia e 22 com psicoses afetivas. Tais grupos de pacientes tiveram seu desempenho cognitivo comparado com o de um grupo controles saudável (n=70), recrutados a partir das mesmas áreas geográficas de São Paulo, Brasil. Até o momento, a maioria dos estudos foi realizada em países em desenvolvimento. Metodologia: A investigação utilizou ampla bateria de testes neuropsicológicos composta por 12 testes agrupados em 8 domínios cognitivos destinados a avaliar respectivamente amplitude atencional, velocidade de processamento da informação, memória verbal, memória visual, memória de trabalho, fluência verbal, funções executivas e funcionamento intelectual. O nível de significância foi de p <0.05. Resultados: O desempenho do grupo de pacientes com psicoses foi pior do que o dos controles em todas as tarefas cognitivas, com diferenças estatisticamente significativas nas tarefas de velocidade de processamento da informação, memória verbal, fluência verbal e funcionamento intelectual, sendo os déficits mais graves no domínio da memória verbal (p <0.001). Os grupos esquizofrenia e psicoses afetivas não diferiram significativamente quando comparados entre si. A inclusão do grupo controle na comparação mostrou que os pacientes com esquizofrenia tiveram desempenho significativamente pior do que os controles, o que não ocorreu entre os controles e as psicoses afetivas. A investigação da influência das variáveis demográficas e clínicas mostrou que o desempenho cognitivo foi beneficiado pela escolaridade, na maioria das funções; a idade atual maior teve associação negativa com a memória visual e fluência verbal; gênero masculino teve correlação positiva com a memória de trabalho, tempo de latência para produção de resposta não-convencional, e negativa com a quantidade de erros frente à necessidade de controle de respostas impulsivas.O padrão de tratamento descontínuo beneficiou o desempenho em tarefas de memória verbal, e prejudicou o desempenho na tarefa de antecipação espacial. O abuso/dependência de substâncias não mostrou correlação com nenhuma tarefa, o que ocorreu na análise de regressão. O início do transtorno em idades mais precoces não mostrou prejudicar o desempenho dos pacientes na maioria das tarefas. O tempo de duração de psicose não tratada (duration of untreated psychosis, DUP) mostrou correlação negativa com o tempo de latência para respostas não-convencionais no grupo das psicoses, influenciando negativamente o desempenho nas tarefas de vocabulário, memória verbal imediata e tardia, e a quantidade de respostas impulsivas. No grupo da esquizofrenia, a maior DUP esteve associada a piores resultados nas tarefas de raciocínio não-verbal, memória verbal imediata e tardia, e quantidade de erros no teste de antecipação espacial. Os sintomas negativos influenciaram negativamente os resultados em várias provas, o que não ocorreu com os sintomas positivos. Conclusão: Pacientes com psicoses funcionais de início recente apresentaram prejuízos cognitivos evidentes em comparação aos controles saudáveis. Confirmou-se também a existência de funcionamento cognitivo semelhante entre amostras de países desenvolvidos e em desenvolvimento através de bateria cognitiva ampla. Os prejuízos cognitivos estenderam-se a várias funções, configurando tendência a perfil de déficits generalizados. Embora tenha havido tendência a maior gravidade de déficits no grupo da esquizofrenia, não encontramos diferenças significativas entre os subgrupos diagnósticos, confirmando a presença de déficits cognitivos nas psicoses de início recente, particularmente nas de natureza não-afetiva.

ASSUNTO(S)

cognição cognition neuropsychology transtornos psicóticos psychotic disorders schizophrenia esquizofrenia neuropsicologia

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