Desejo, diferença e sexualidade na educação infantil : uma análise da produção dos sujeitos nas práticas escolares

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Nesta dissertação, lançamos um olhar para as práticas que ocorrem numa escola de Educação Infantil, visando conhecer as relações e o modo como se lida com as diferenças. Diferenças das crianças entre si, delas com os educadores, as famílias, enfim, as diversas formas de relação que transversalizam a escola. Pensamos o processo de escolarização enquanto produtor dos sujeitos que ingressam ali, e o desejo como motor das diversas relações que acontecem naquele espaço. Sendo assim, o desejo também é produzido nessa rede de relações escolares, funcionando como o tecido onde têm visibilidade afetos, pensamentos, posturas e construções subjetivas. A diferença e o desejo são entendidos a partir das conceituações de Deleuze e Guattari. A sexualidade, enquanto uma das produções desejantes, um dos modos de investimento do poder sobre os corpos e dos corpos sobre o poder, fundamenta-se no conceito de dispositivo da sexualidade proposto por Michel Foucault, cujos estudos genealógicos sobre a produção do corpo nos moveram-nos a problematizar a naturalização da infância e da sexualidade. Realizamos uma pesquisa-intervenção numa escola de Educação Infantil da modalidade "Jardim de Praça", na cidade de Porto Alegre (RS), onde examinamos as relações que funcionavam ali, para pensar outras possibilidades de problematização e reinvenção das práticas escolares. Efetuamos, então, uma cartografia das relações, no espaço escolar, para discutir os encontros das diferenças, no que diz respeito às questões de gênero, sexualidade, classe social, grupo cultural, idade ou, ainda, das diferenças mais cotidianas que não figuram no quadro destas categorias, que figuram no platô dos afectos, sentimentos, desejos das crianças e das educadoras, que percorrem-nas e vazam por entre elas. Nos encontros com os autores estudados e a escola pesquisada, foram sendo tecidos e reconfigurados o problema de pesquisa e as análises. Pesquisar a escola, enquanto uma instituição assentada na visão moderna, implica em se deparar com uma complexidade de práticas sociais que integram os processos constitutivos dos sujeitos. Assim, representa problematizar o que temos produzido cotidianamente em termos desejantes, uma vez que a escola faz parte da nossa constituição em termos de afeto, pensamento e ação no mundo. Neste trabalho, não buscamos olhar 'os diferentes', mas as diferenças num caráter relacional. Na sua realização percebemos que as crianças, as educadoras e os pais são investidos de forças de normalização que visam a capturar as diferenças de suas vidas e, ao mesmo tempo, sustentam-nas em certos momentos, investindo-as uns em relação aos outros. A instituição escolar constrói-se como espaço pouco aberto às diferenças, ainda que haja 7 crianças 'incluídas', uma vez que não se trata a diferença enquanto potência de transformação e construção de novas realidades - conseqüência inevitável das produções desejantes, presentes em toda parte. A diferença é tida hegemonicamente como problema, incômodo, erro, desvio, fracasso, etc. Simultaneamente, as diferenças dos educadores entre si, destes com as crianças e com as famílias também se tornam campo de embates com o poder e tecem formas de resistência e linhas de fuga ao instituído, problematizando o que temos como seguro, dado, palpável e estabelecido.

ASSUNTO(S)

differences diferença de sexo children education educação infantil desejo sexuality escola childhood sexualidade infância educação infantil prática pedagógica

Documentos Relacionados