Das mortificações da carne ao governo da alma: Igreja, modernidade e educação / From mortification of the flesh to the government of the soul: Church, modernity and education

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Qual a conduta idealizada de um professor? Como se engendrou a maneira de atuar nas salas de aula e fora delas? Como foram estabelecidos os parâmetros de um governo eficiente do alunado? Autoridade, disciplina, cuidado com o grupo, instrução e conhecimento, didática e retórica, comportamento exemplar e moral ilibada: estes seriam alguns dos atributos necessários que despontariam em uma rápida reflexão sobre um professor idealizado. Tendo tal horizonte temático em vista, esta dissertação intenta problematizar a formatação da ética docente por meio de tais predicados, partindo do pressuposto de que a associação entre eles foi constituída historicamente, em resposta a demandas do século XIX. Para tanto, foram escolhidos quatro dispositivos empregados reiteradamente no cotidiano escolar com vistas ao controle de suas populações: a normatização e a vigilância das populações, o cuidado de si e a moralização dos costumes. A pesquisa levada a cabo desdobra quatro correlatos aos dispositivos acima citados, produzidos no interior de instituições católicas e incorporados, mais tarde, como práticas escolares laicas. São eles: a disciplinarização do sacerdócio via normatização escolar; a preparação eclesial ao pastorado; o aumento exponencial da aplicação do sacramento da confissão; e o ascetismo como comportamento de referência. Deste modo, optou-se por entender o funcionamento desses dispositivos, assim como sua emergência, de acordo com enfrentamentos que o corpo eclesial encarou no período das explosões das revoluções, da escalada hegemônica da ciência e da preponderância do secularismo. Uma das conclusões do presente trabalho é a de que, dentre várias práticas de religiosidade existentes no século XVIII (como o jansenismo e o regalismo), a que priorizou um missionarismo de base apostólica e educacional foi a preponderante na centúria seguinte, assumindo o papel de regeneradora da Igreja e de principal forma de exercício do poder da Santa Sé sobre suas populações. Tratava-se de fortalecê-la diante do desmanche das sociedades soberanas e dos questionamentos vigorosos acerca da tradição cristã. Para a Santa Sé, a educação parece ter sido a opção estratégica para manter sua autoridade sobre o mundo ocidental, ajudando a fazê-la transitar de um governo primordialmente soberano para outro mais adaptado aos embates com os Estados nacionais e com os enunciados científicos. Ao discutir a educação confessional propriamente dita, foram privilegiados como nossos objetos de estudo manuais de conduta sacerdotal bem como algumas encíclicas papais. Foi-nos considerado mais apropriado um esforço de diálogo metodológico, ao longo deste trabalho, com a perspectiva genealógica consagrada por Michel Foucault.

ASSUNTO(S)

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