A intensificação das contradições das práticas institucionais induzidas pela atual cultura da universidade pública: o caso da FEMEC-UFU

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

Objetivou-se neste trabalho analisar a visão dos professores pesquisadores sobre as possíveis consequências da intensificação do trabalho na pós-graduação para ensino e demais atividades na graduação, processo este que se deu no contexto de ajuste da economia nacional à mundialização do capital e de reforma do aparelho do Estado, de forma a nortear a reconfiguração da identidade da universidade pública, com conseqüências para o trabalho do professor. Para alcançar esse objetivo foram realizadas 13 entrevistas, semi-estruturadas, com os docentes da FEMEC-UFU. Esta universidade foi escolhida, dentre outros motivos, com base nos dados e análises de pesquisa realizada por Sguissardi e Silva Júnior, que redundou na publicação do livro ―O trabalho intensificado nas Federais: pós-graduação e produtivismo acadêmico, em 2009. Os dados e análises lá expostos e o fato do Curso de Pós-Graduação da FMEC apresentar nota 6, nos sugeria haver alta produtividade e intensificação do trabalho do professor. A análise das entrevistas foi feita por meio da sistematização de subtemas que emergiram da sua leitura e que tinham íntima relação com nosso objetivo e objeto de pesquisa, a saber: CAPES; intensificação do trabalho; produção técnica e científica (produtivismo acadêmico); parceria público-privado (PPP); professores novos x professores antigos; e filosofia e organização da unidade. Com esses procedimentos ficou evidente a complexidade e as contradições existentes na relação entre as práticas universitária na graduação e pós-graduação. Nossa hipótese de pesquisa foi parcialmente corroborada pela análise dos dados. Pôde-se afirmar que há sim uma tendência, diante da atual conjuntura do trabalho do professor-engenheiro da FEMEC-UFU, de que suas atividades na pós-graduação venham a se sobrepor às da graduação. Entretanto, há docentes que, em face dessas mudanças e respaldados por uma carreira mais ou menos consolidada, preferiram deixar o programa de pós-graduação e atuar em pesquisas e na graduação de acordo com seus valores e ideais de formação, e sob prazos e tempos mais auto-administrados; ou ainda, de professor que desistiu da pós-graduação e que buscou seu reconhecimento na coordenação de um novo curso de graduação. Ademais, outro aspecto relevante foi o de que o trabalho do professorengenheiro- pesquisador junto às empresas, quer seja ele pertencente ou não à pós-graduação trabalho este que é induzido pelos editais, reconfiguração da universidade pública e incentivo das parcerias público-privadas, num contexto de progressiva demanda do setor produtivo e empresarial privados de conhecimentos tecnológicos - acarreta em significativo dispêndio de tempo de trabalho, e, por extensão, limita suas possibilidades de maior ou menor dedicação às atividades na graduação, e também, em alguns deles, na pós-graduação. A assunção de cargos administrativos e a participação na gestão universitária também foram apontados como fatores que dificultam tanto a participação na pós-graduação como na graduação. A imaturidade dos alunos e uma queda no seu nível de qualidade também foram considerados como fatores que tornam o trabalho na pós-graduação mais intenso senão penoso. Por fim, na visão de alguns professores, as exigências à pós-graduação, que tendem a ser naturalizadas e justificadas por alguns deles, poderiam, em algumas circunstâncias, possibilitar uma melhor sinergia entre estes dois níveis de formação, ora favorecendo melhoria dos laboratórios e aulas práticas, ora possibilitando alunos que viriam a ser importantes inputs às pesquisas e publicações.

ASSUNTO(S)

reforma do estado universidades e faculdades públicas relação graduação-pós-graduação produtivismo acadêmico intensificação do trabalho reforma do estado educacao state reform public university relationship undergraduate-graduate teaching academic productivism work intensification

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