A construção da continuidade tematica por crianças e adultos compreensão de descrições definidas e de anaforas associativas

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2002

RESUMO

Neste trabalho, observa-se como crianças e adultos constroem a continuidade temática na leitura de textos expositivos de divulgação científica. Especificamente, destaca-se a interferência que a experiência em leitura e a organização de expressões nominais definidas pode gerar na compreensão. Busca-se responder perguntas como: até que ponto descrições definidas e anáforas associativas podem interferir na leitura, tornando mais complexo o processamento das informações? Parte-se da suposição de que a dificuldade de compreensão de textos expositivos por leitores iniciantes está associada ao fato de descrições definidas e anáforas associativas colocarem restrição ao processamento, por exigirem conhecimento conceitual, lingüístico ou pragmático que nem sempre o leitor consegue mobilizar no ato da leitura. O corpus deste trabalho constitui-se de respostas a questões e de recontos escritos a partir de textos de divulgação científica. A observação dos padrões de respostas e o confronto entre as estratégias usadas por grupos de crianças e de adultos permitiram observar como esses sujeitos construíram os referentes para expressões nominais anafóricas. Como fazem Marcuschi e Koch, 1998; Marcuschi, 1998; Koch, 1998; Koch, 2000 e 2002; Apothéloz e Reichler-Béguelin, 1995; Mondada e Dubois, 1995, considerou-se que a atividade de referenciação é uma atividade discursiva e que os referentes de uma expressão anafórica são construídos pela ação cognitiva e discursiva dos sujeitos em situações de comunicação. Os resultados desta pesquisa evidenciam que há diferenças importantes nas estratégias que leitores experientes e pouco experientes utilizam na compreensão de expressões anafóricas. Verificou-se que experiência em leitura não está, necessariamente, relacionada ao tempo de escolaridade. Há evidências de que, no estabelecimento da continuidade, o leitor age sobre o texto, construindo os objetos referidos, de acordo com os modelos mentais, da situação e do discurso que possui arquivados e com aqueles que consegue tecer na interação. Nesse trabalho de construção, leitores pouco experientes parecem consumir alta demanda de recursos cognitivos, utilizam estratégias cognitivas inadequadas e não monitoram sua própria compreensão. Conseqüentemente, produzem leituras que lhes dão uma ilusão de coerência. Os leitores experientes, por sua vez, por mobilizarem adequadamente informações de seu conhecimento prévio, realizam inferências e conseguem atingir uma compreensão global do texto. Os resultados destacam, ainda, que a ausência de uma expressão candidata à âncora marcada explicitamente no texto pode impor dificuldade na construção do referente.

ASSUNTO(S)

leitura compreensão anafora (linguistica) continuidade

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