A adesão ao tratamento de portadores de hipertensão arterial sistêmica na atenção primária à saúde: (re)pensando estratégias de educação em nutrição e saúde / The adherence to treatment of the hypertensive subjects in primary health care: (re)thinking strategies of nutrition and health education

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

31/03/2010

RESUMO

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) constitui um grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo, e apesar do risco que representa, a adesão à terapia anti-hipertensiva e consequente controle da doença, permanecem como desafios aos serviços de saúde, em especial na Atenção Primária à Saúde (APS). Nesse sentido, o objetivo desse estudo foi avaliar e comparar duas modalidades de intervenção visando à orientação de mudanças dietéticas indicadas no tratamento da HAS em mulheres portadoras da doença. A primeira baseada em atividades educativas em grupo realizadas na Unidade de Atenção Primária à Saúde (UAPS); e a segunda, combinada - pelas atividades educativas em grupo e por orientações domiciliares, seguindo um programa de educação nutricional sistemático e acompanhamento familiar. A pesquisa foi realizada UAPS na área urbana de Porto Firme - MG. Trata-se de um estudo exploratório, longitudinal de intervenção, comparativo, aleatorizado e não cego, de abordagem quanti-qualitativa. Para o estudo de adesão foram selecionadas 28 mulheres portadoras de HAS cadastradas na UAPS, com idade entre 45 e 60 anos, com níveis tensionais ≥ 140/90 mm Hg e/ou em uso de medicação anti-hipertensiva, sem acompanhamento nutricional, sem condições clínicas graves, não grávidas, sem uso abusivo de álcool de drogas e que aceitaram participar do estudo. O estudo foi desenvolvido durante os meses de abril a agosto de 2009, e constituía-se das seguintes estratégias: cinco oficinas realizadas mensalmente, visando à educação e prevenção de agravos, com ênfase na terapêutica dietética da HAS e orientações domiciliares. Além do estudo de adesão, ainda foi avaliado o perfil clínico-epidemiológico do grupo de portadores de HAS participante das oficinas educativas, uma vez que estas eram abertas à toda comunidade. Nesse grupo foram avaliados o índice de massa corporal (IMC), a pressão arterial (PA), bem como o histórico clínico por meio do registro em prontuário individual. Na amostra do estudo de adesão foram avaliados antes e após a intervenção: IMC, PA, circunferência de cintura (CC), parâmetros bioquímicos (glicemia e perfil lipídico), consumo alimentar, além do conhecimento e apreensão sobre HA. Para a análise dos dados quantitativos foram utilizados os softwares Excel for Windows 2007 e SPSS for Windows.Windows. Para todos os testes, o nível de significância adotado foi de p <0,05. Para análise qualitativa das representações sociais das mulheres sobre a HA e sua percepção sobre as atividades educativas, foram realizadas entrevistas individuais e grupos focais, que depois de gravados e transcritos, foram analisados pelo método de análise de conteúdo de Bardin (2004) e Minayo (2007). Quanto ao perfil clínico epidemiológico do público das oficinas, foram avaliados 238 portadores de HA, havendo predominância do sexo feminino (66,8%) e idosos (66,4%). A média de IMC do grupo foi de 27,4 kg/m, sendo a prevalência de sobrepeso estatisticamente maior entre os indivíduos de meia-idade (p<0,001) e mulheres (p=0,004). O controle da PA foi observado em 55,5% da amostra, não havendo diferença significativa da classificação da PA segundo sexo e faixa etária. No estudo de adesão, o grupo que recebeu orientações domiciliares teve melhor desempenho na avaliação dietética, com redução no consumo do grupo de alimentos de risco (p=0,01), óleo (p=0,002) e açúcar (p=0,02); e também na avaliação clínica, com redução dos parâmetros de IMC (-0,7 kg/m; p=0,01); CC (-4,2 cm; p=0,001), PA sistólica (-13 mmHG; p=0,004) e glicemia (-18,9 mg/dl; p=0,01), enquanto o grupo que não recebeu orientações domiciliares teve redução apenas da CC (-2 cm; p=0,01). Em relação às representações sociais das participantes sobre a HA, por meio das análises emergiram os seguintes atrativos semânticos: efeitos psicológicos/ sentimentos ligados ao diagnóstico da HA; o cotidiano do portador de HA e as mudanças em seu dia-a-dia; e o convívio familiar com HA; por meio das quais foram identificadas diferentes dimensões e espaços ligados a adesão, no âmbito individual e coletivo, destacando-se o acesso à informação associado ao suporte social como fator favorável à adesão ao tratamento. Sobre a percepção das mulheres sobre as atividades educativas, observou-se que as estratégias educativas dialógicas utilizadas constituíram-se em um importante instrumento facilitador dos indivíduos e familiares ao conhecimento sobre o processo saúde-doença-adoecimento, aumentando sua capacidade de controle sobre os determinantes desse processo. Destarte, destaca-se a visita domiciliar como importante indutor da consciência sanitária e envolvimento dos familiares no processo terapêutico, por permitir superar de forma mais concreta a fragmentação da relação/vínculo entre profissional de saúde e usuário. Constatou-se que, apesar de as duas estratégias de educação em saúde terem tido efeito positivo sobre aadesão às orientações nutricionais na HA, as orientações domiciliares obtiveram resultados significativamente mais expressivos, destacando a potencialidade dessa estratégia como facilitador/indutor da adesão de portadores de HA ao tratamento.

ASSUNTO(S)

nutricao atenção primária à saúde saúde da família educação em saúde hipertensão primary health care, family health, health education hypertension

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