"Variabilidade biológica entre sambaquieiros: Um estudo de morfologia dentária" / "Biological variability between sambaquis populations by discrete dental analysis"

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

Estudos arqueológicos realizados em sambaquis fluviais sugerem proximidade cultural entre estes e os sambaquis litorâneos. No entanto, existem poucos trabalhos que abordam as relações biológicas e os processos microevolutivos destes sambaquieiros, mesmo por que coleções osteológicas de sambaquieiros fluviais são conquistas recentes da arqueologia nacional. Visando lançar luz sobre este importante aspecto da antropologia biológica e da arqueologia brasileira, o presente trabalho tem como principal objetivo estimar a biodistância entre grupos de indivíduos que perfazem coleções osteológicas humanas provenientes de sambaquis fluviais e litorâneos através de 33 variáveis morfológicas não-métricas dentárias. Os caracteres dentários são de determinação genética, dificilmente alterados por fatores ambientais. Além disso, preservam-se bem no registro arqueológico, são de fácil análise, sendo importantes marcadores para estudos de biodistância. Para este estudo foram observadas variáveis dentárias de 1958 coroas e de 3260 raízes de dentes permanentes de um total de 239 indivíduos provenientes de quatro sítios fluviais do Vale do Ribeira (Capelinha, Estreito, Moraes, Pavão XVI) e sete sítios arqueológicos do Paraná e Santa Catarina (Enseada I, Guaraguaçu, Itaquara, Jabuticabeira II, Matinhos, Morro do Ouro e Rio Comprido). As análises foram realizadas de três formas diferentes: 1) Os sítios foram comparados um a um; 2) Os sítios foram agrupados em quatro regiões diferentes (São Paulo, Paraná, norte de Santa Catarina e sul de Santa Catarina) e estas regiões foram comparadas entre si; 3) Foi mantida a região de São Paulo, composta pelos sítios fluviais do Vale do Ribeira, e esta foi comparada com cada um dos outros sítios separadamente. Desta forma foi possível discutir as relações de distância biológica entre estes diferentes agrupamentos quanto a aspectos distintos. Várias maneiras diferentes de análise foram utilizadas para estimar a distância biológica: a Medida Média de Divergência (MMD) segundo duas fórmulas distintas, o teste de Sanghvi, o Escalonamento Multidimensional e a análise de Cluster. A maioria dos resultados dos diferentes testes quanto aos distintos agrupamentos indicam que os indivíduos do sambaqui fluvial Moraes encontram-se dentro da variabilidade biológica dos sambaquieiros litorâneos estudados, sendo que se assemelham biologicamente mais aos indivíduos provenientes dos sítios litorâneos do Paraná. Arqueologicamente estas regiões não se assemelham, o que exige a realização de outros trabalhos para que esta discrepância possa ser compreendida. Foram observadas diferenças biológicas significativas entre alguns grupos de sambaquieiros litorâneos. Estes resultados corroboram estudos anteriores tanto da arqueologia quanto da antropologia biológica, em que se observaram diferenças entre alguns sambaquis litorâneos. Os diferentes métodos estatísticos utilizados no presente estudo mostraram divergências em alguns casos, cujas implicações são discutidas. Para melhor compreender a relação dos sambaquieiros fluviais com outros grupos sambaquieiros e do interior do Brasil, são necessários novos trabalhos incluindo um maior número de indivíduos e outros sítios na amostra. Só assim poderá ser verificado se os grupos fluviais continuam fazendo parte da variação morfológica encontrada entre os grupos litorâneos ou não.

ASSUNTO(S)

sambaqui antropologia dentária bioditance sambaqui dental anthropology bioditância

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