Um olhar nacional sobre a Amazônia: apreendendo a floresta em textos de Euclides da Cunha

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

A presente tese busca discutir processos e discursos que operaram na direção da nacionalização da Amazônia em um momento e circunstância específicos: o período da Primeira República brasileira. Para tanto, examinou-se um conjunto variado de textos (ensaios, cartas, relatórios, ofícios, livros, diários, artigos jornalísticos), especialmente os escritos por Euclides da Cunha sobre a floresta, privilegiando-se aqueles produzidos em decorrência de uma viagem oficial feita pelo referido autor em 1905, como chefe da Comissão Brasileira de Reconhecimento do Alto Purus, para colher dados acerca da delimitação territorial dessa área. A partir de dados colhidos nesta viagem, o governo brasileiro pretendia mapear o rio Purus em sua trajetória, desde a desembocadura em Manaus até suas cabeceiras no atual Estado do Acre, definindo, com tal mapeamento, as fronteiras noroestes do país em seus limites com a Bolívia e o Peru. A viagem foi patrocinada pelo Ministério das Relações Exteriores da República do Brasil e realizada conjuntamente com uma comissão do governo peruano. A investigação que desenvolvi nesta tese está inscrita no campo teórico dos Estudos Culturais e buscou inspiração, sobretudo, em suas versões latino-americanas. Dessa forma, foi central à pesquisa a consideração nas análises do conceito de hibridação cultural. Através dessa noção, buscou-se ampliar as articulações do estudo focalizado na tese a outros campos de saberes, ao colocarem-se em relação diferentes elementos que parecem ter atuado na invenção de um olhar efetivamente nacional para a Amazônia, naquele momento de inauguração da República. Assim, hibridar a Amazônia que emergia das páginas escritas por Euclides da Cunha refere-se ao ato investigativo de colocar em jogo elementos que muitas vezes poderiam ser vistos como paradoxais ou excludentes em outras perspectivas teóricas. Nessa pesquisa, no entanto, esses são configurados como atuantes, ao mesmo tempo, na instituição da Amazônia como um território nacional. Indico na tese que esteve em jogo neste processo: 1) a necessidade de ir lá ver a floresta com os próprios olhos (olhos muito próprios de um brasileiro com delegação oficial) para poder-se melhor narrá-la; 2) a incumbência oficial de proceder-se a escrituração dos rios desta região, para realizar a demarcação das fronteiras da nação; 3) o enfraquecimento das narrativas estrangeiras de viagem sobre a Amazônia, permitindo a promoção de um “desencantamento” de seu território; 4) a invenção de uma raça nacional tida como capacitada a desencadear a transformação da floresta e sua efetiva integração a um país clamante de progresso, de civilização e de desenvolvimentoeconômico; 5) e o combate ao nomadismo histórico de ocupação do seu território, que mantinha a floresta como desértica de civilização. Considera-se que todos estes aspectos - que articuladamente foram, segundo as análises processadas na tese, colocados em jogo nos textos amazônicos de Euclides da Cunha - operaram na direção de ensinar aos brasileiros daqueles tempos, sobretudo os incrustados no governo brasileiro, como se deveria enxergar a Amazônia, para que ela pudesse civilizar-se, desenvolver-se economicamente e integrar-se à nação. Enfim, nessa “pedagogia” que estava em operação nos textos euclidianos, foi imprescindível instituir um olhar efetivamente nacional, brasileiro, para a floresta.

ASSUNTO(S)

estudos culturais cunha, euclides da, 1866-1909, crítica e interpretação cultural studies amazônia euclides da cunha educação ambiental meio ambiente amazonia environmental education

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