Turismo de massa e segregação psicossocial em uma comunidade litorânea no Nordeste brasileiro: uma análise a partir da experiência de resistência e submissão das crianças

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

Estudo acerca da segregação psicossocial gerada pela indústria do turismo de massa na comunidade litorânea da Praia do Francês, Nordeste brasileiro, numa perspectiva teórico-metodológica que, de acordo com a psicologia dialética materialista, analisa o processo de exclusão/inclusão social, visando superar a dicotomia subjetividade/ sociedade. Com a intenção de aprimorar a práxis psicossocial, parte-se do pressuposto que o turismo, apesar da promessa de melhoria econômica, engendra situações de segregação espaço-temporal e psicossocial ao delimitar, desde as crianças, espaços discriminatórios que perpetuam a relação colonizado─colonizador agora sob a forma de nativo─forasteiro, sendo seu principal elemento segregador o preconceito que sedimenta, justifica e conforma relações desiguais e hierarquizadas. Uma indústria ambígua: necessita da beleza nativa do lugar para seu desenvolvimento e, uma vez implantada, a degrada. Objetiva-se analisar os sentidos da experiência de viver neste lugar para as crianças. A criança foi escolhida por tratar-se da geração que, nascida no prenúncio da fase de decadência da atividade turística no local, perdeu a vivência prazerosa com a natureza, antes possível aos mais velhos, o benefício econômico ganho pela geração do meio, e o convívio próximo com o turista, experimentado pela geração mais jovem, como já mostrava nossa Dissertação de Mestrado. Para tanto, realizou-se uma pesquisa participante, onde as informações são analisadas primeiro, delineando-se a segregação espacial e as mudanças nesta direção ocorridas desde a década de 70, recorrendo-se aos documentos existentes do local; as pesquisas que mapearam contexto sócio-econômico recente ─ pousadas e bares ─, sustentáculo desta indústria; a descrição das construções e habitações locais; à memória oral dos moradores mais antigos e a entrevista com os responsáveis por instituições governamentais. Num segundo momento analisam-se os sentidos experienciados no lugar a partir de informações coletadas por meio de fotos, desenhos, textos e conversas realizadas pelas e com as crianças. Os resultados apontam essa indústria como uma forma moderna de colonização que recria formas de discriminação e exclusão às populações endógenas. As crianças vivem uma dupla exclusão: a de terem perdido a beleza e a fartura da natureza, e a impossibilidade de apropriação dos bens de consumo produzido e estimulado pela sociedade capitalista. E são incluídas como estrangeiros em sua localidade de forma estigmatizada: não podem brincar nos locais próximos a determinados loteamentos e perdem a vista para o mar, sua grande fonte de lazer. Herdaram poluição, destruição ambiental, dificuldade financeira e convívio segregacionista. Elas têm consciência da segregação e da impossibilidade de acesso à incessante oferta de consumo que a sociedade produz. Sabem que a escola que freqüentam não vai prepará-las para a competição. Não podem e não querem mais ser pescadores como seus pais e não aceitam as profissões que o turismo lhes atribui. Apesar disso, vivem o espaço enquanto lugar de morada e diversão e o brincar enquanto uma atividade revolucionária. São os principais protagonistas sociais no local: corajosos e resistentes. Não há muros que os detenham e ainda resistem e experimentam o lugar como seu, graças à memória social que enraíza e é mantida na intersubjetividade geracional

ASSUNTO(S)

comunidade preconceito psicologia social turismo segregação psicossocial infância

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