Transtornos mentais comuns na infância : estudo de mecanismos genéticos e neuropsicológicos

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

2012

RESUMO

A psiquiatria moderna tem avançado no sentido de não mais apenas focar-se em descrever as síndromes psiquiátricas clínicas, mas também no intuito de entender os mecanismos pelos quais processos biológicos e psicológicos disfuncionais podem levar a trajetórias atípicas de desenvolvimento. Os quatro artigos desta tese se inserem dentro deste contexto e procuram buscar os mecanismos genéticos (artigo #1) e neuropsicológicos (artigos #2, #3 e #4) envolvidos em transtornos mentais comuns na infância. Eles se utilizam dos dados de dois grandes estudos de base comunitária e que integram tanto avaliações psiquiátricas como uma série de avaliações neuropsicológicas e biológicas. O primeiro artigo teve a intenção de estudar o papel moderador do estágio puberal no risco conferido por variações genéticas na região promotora do gene transportador da serotonina para os sintomas de depressão na adolescência. Este estudo mostrou que, apenas nos adolescentes pós-púberes (mas não em pré-púberes e púberes), as variantes de alta expressividade desse polimorfismo (LgLg) são protetoras para os sintomas de depressão na adolescência. Esse artigo avança na compreensão mecanística dos sintomas depressivos por demonstrar que variações genéticas podem apenas exercer seus efeitos de risco e proteção após períodos de regulação da sua expressão, como os que ocorrem de forma programada na puberdade. O segundo artigo aborda a orientação da atenção para estímulos ameaçadores (faces de raiva) e recompensadores (faces de felicidade). Em uma grande amostra de sujeitos da comunidade (n=2512), este estudo mostrou que sintomas de internalização na infância (como ansiedade e depressão), estão associados a vigilância para estímulos ameaçadores. Além disso, o efeito dos sintomas internalizantes foi diferente dentro de cada grupo de psicopatologia. Enquanto crianças com transtornos do estresse (ansiedade generalizada, depressão e estresse pós-traumático) mostraram vigilância para estímulos ameaçadores, as crianças com fobias evitaram esses estímulos. Este estudo avança na compreensão mecanística destes transtornos, no sentido de demonstrar que o tipo da psicopatologia pode interferir na direção da orientação da atenção. O terceiro artigo tem a intenção de estudar os mecanismos de processamento básico (p.ex, preparação motora, eficiência de processamento) e de controle inibitório (capacidade de inibir um estímulo quando há uma forte tendência para executá-lo) no Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Esse artigo avança no entendimento dos mecanismos relacionados ao TDAH ao demonstrar que uma pior eficiência de processamento é um déficit específico do TDAH e não encontrado em qualquer outro transtorno psiquiátrico investigado. Além disso, desafia a hipótese executiva do TDAH, embasada no controle inibitório, ao mostrar que todos os achados nessas tarefas foram explicadas por déficits em processamento básico. O quarto artigo é desenhado para testar a hipótese de dimensionalidade do TDAH. Este estudo confirma que déficits neuropsicológicos encontrados como sendo característicos do TDAH estão associados com desatenção e hiperatividade/impulsividade em sujeitos de desenvolvimento típico. Desta maneira provê uma evidência fisiopatológica de que mecanismos de processamento básico estão envolvidos em todo o espectro de problemas atencionais e de hiperatividade/impulsividade. A compreensão dos mecanismos de doença na psiquiatria moderna é imperativa. A combinação das neurociências à clínica psiquiátrica apresenta-se como uma alternativa promissora de avançar o conhecimento, sem perder os referenciais teóricos que movem o campo adiante.

ASSUNTO(S)

transtornos de ansiedade transtorno do déficit de atenção com hiperatividade transtornos mentais diagnosticados na infância genética neuropsiquiatria

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