Solos carbonático-fosfáticos do Platô de Irecê, BA: gênese, mineralogia e geoquímica / Carbonate-phosphates soils of Irecê Plateau, BA: genesis, mineralogy and geochemistry

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

O Platô de Irecê está localizado em uma região semiárida do Centro Norte do Estado da Bahia e possui rochas calcárias que foram depositadas durante o Neoproterozóico (Pré-Cambriano). Em muitos pontos do platô, essas rochas ocorrem em associação com rochas fosfáticas e mineralizações sulfetadas de Fe, Zn e Pb na forma de diversos gossans, originadas por hidrotermalismo. Processos geomorfológicos que ocorreram durante o Cenozóico contribuíram para o aplainamento da região e deposição em posições mais baixas da paisagem, do calcário secundário conhecido como calcário Caatinga que foi originado a partir da dissolução dos calcários do platô. A alta fertilidade natural dos solos do Platô de Irecê contribuiu para que essa região se tornasse uma das áreas agrícolas mais importantes do Nordeste. Os resultados do estudo da gênese dos solos permitem concluir que o intemperismo ocorrido em fases pretéritas mais úmidas foi o fator preponderante para a formação de Latossolos ou de Cambissolos com características latossólicas, nas áreas estudadas no Platô de Irecê; nos locais de influência do gossan, a drenagem ácida foi um fator adicional que contribuiu com o aprofundamento ainda maior do perfil, já que estas áreas fraturadas e mineralizadas com sulfetos constituem zonas preferenciais de remoção de solutos. Os altos teores de CaCO3 dos solos do Platô de Irecê influenciam em características importantes dos solos, como estrutura e textura. Os solos originados do gossan apresentaram os maiores valores de Fe2O3. O índice Ki (relação molecular SiO2/Al2O3) da argila maior que 2,2, considerado para identificar Cambissolos, não se aplica aos Cambissolos calcários do Platô de Irecê; outros critérios, como a CTC >17 cmolc kg-1 e a atividade de argila, são compatíveis com a classificação como Cambissolos. O Platô de Irecê passou por um período pretérito úmido, com intensa remoção de sílica que resultou na transformação de minerais 2:1 em 1:1, e por um período seco, mais recente, semelhantes às condições atuais, compatível com a baixa substituição isomórfica detectada do Fe pelo Al. O estudo da mineralogia dos solos calcários demonstrou que a ocorrência do mineral calcita na fração areia foi condicionada a ambientes com cotas de menor altitude, onde ocorreram aportes de sedimentos calcários ou em áreas de dolinas quando a altitude é mais elevada. A calcita e dolomita presentes na fração argila foram resultantes da precipitação dos carbonatos que foi favorecida pelas condições geoambientais da região. O quartzo foi o único mineral presente nas três frações de todos os perfis, sendo que nas frações argila e silte sua origem está relacionada à neoformação, enquanto que na fração areia tem origem da rocha matriz. A caulinita é o mineral mais comum na fração argila nos solos do Platô de Irecê. O estudo da mineralogia dos solos originados do gossan, feito por meio de difratometria de raio-X e por mapas e análises microquímicas em microscopia eletrônica de varredura (MEV/EDS), revelou a presença de plumbogumita e fosfoferrita que são minerais fosfatados de ocorrência pouco comum em solos. A extração sequencial de fósforo em solos desenvolvidos sob influência de rochas fosfáticas demonstrou que, dentre as formas inorgânicas de P nos solos do Platô de Irecê, estabeleceu-se a seguinte ordem: P-Ca >P-Fe/Al >P-lábil; o Cambissolo Háplico Tb eutrófico latossólico (perfil P8), utilizado como solo de referência de área externa à mineralização, também apresentou valores elevados de P-lábil no horizonte superficial, indicando a redistribuição do material transportado a partir da área de mineralização fosfática. Os solos da sequência analisada apresentaram comportamento diferenciado de solos não calcários do semiárido nordestino, como observado pelo maior teor de carbonato de cálcio, que proporcionou maiores teores de P-Ca e menor P-residual em relação ao P-total. Os resultados da análise de metais pesados em solos desenvolvidos sob influência do gossan revelam que o Cambissolo Háplico Tb eutrófico latossólico (P6) apresenta uma forte anomalia para Zn, Pb e Cr, que pode levar ao comprometimento da qualidade desse solo e apresentar riscos potenciais para o homem e para o meio ambiente; os teores totais de Mn foram maiores para solos dentro da área do gossan, demonstrando que o intemperismo das mineralizações sulfetadas pode ter contribuído com o aporte desse elemento no solo. O perfil P8, utilizado como solo de referência de área externa ao gossan, também apresentou valores elevados de Zn, Pb e Cr, indicando que ocorreu uma redistribuição lateral do material, possivelmente pela pedimentação em uma fase semiárida mais severa, que gerou a superfície de aplainamento do Platô de Irecê.

ASSUNTO(S)

calcita dolomita fosfoferrita fósforo metais pesados ciencia do solo calcite dolomite phosphoferrit phosphorus heavy metals

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