Sementes da esperança: floresce a Santa Religião em solo catarinense: elementos formadores do messianismo no Contestado

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

A Guerra do Contestado, ocorrida entre 1912 a 1916, foi um fenômeno de causas sociais, viabilizado pelo religioso. No Oeste Catarinense do início do século XX, predominava a mentalidade monárquica. Com a Proclamação da República, os políticos lotearam a área, distribuindo terras ocupadas pelos campesinos àqueles de seu interesse. Soma-se a isso a construção da Estrada de Ferro São Paulo Rio Grande, assumida pela Brazil Railway. Segundo o contrato, tinha o direito de exploração da faixa de terra correspondente a 15 quilômetros marginais, em ambos os lados da ferrovia, por todo o seu trajeto, o que justificou a criação de uma madeireira para explorar a grande quantidade de madeiras nobres que cobria o Oeste Catarinense. Assim, mais campesinos se viram desalojados de suas terras. É chamado Contestado pois quase todo o Oeste Catarinense tornou-se área disputada por Paraná e Santa Catarina, instigando a belicosidade a já tumultuada sociedade sertaneja. Paralelamente ao caos social que ia se estabelecendo, surgiu o primeiro monge, João Maria de Agostini, um eremita devoto de Santo Antão, que foi tido como curandeiro e milagreiro. Perto de seu desaparecimento, surgiu o segundo monge, João Maria de Jesus, cujo nome verdadeiro era Atanás Marcaf. Trilha o caminho de seu antecessor, com algumas nuanças peculiares. É visto apoiando os revoltosos da Revolução Federalista. Por fim, o terceiro monge, José Maria, dizendo-se irmão de João Maria, teve liberdade para trabalhar seu personagem. Os dois João Maria preferiam o nomadismo e a solidão, enquanto o último monge admitiu seguidores e tornou-se líder militar. Morto em combate, o movimento organiza-se política e religiosamente. A liderança fundada no prestígio começa a dar lugar à coerção. Estabelece-se o virgenato e os meninos-deus, videntes que recebiam orientações diretas de José Maria. Percebem-se elementos da religiosidade negra e índia no messianismo Contestado, amalgamadas no catolicismo popular. Falando-se genericamente, influenciaram com o modelo de possessão e certa medida de animismo. Especificamente, contribuíram com algumas crenças, ritos e cerimônias. A resistência dos caboclos provocou reações cada vez mais enérgicas por parte do Exército Brasileiro, apoiado por vaqueanos contratados. À medida que o fim se aproximava, mais o religioso era substituído pelo barbarismo. Como legado religioso, nota-se a adoração de João Maria no catolicismo popular dos três estados sulistas e sua assimilação como um dos principais santos dos Kaingang. Mesmo o MST sofreu sua influência, podendo ser descrito como a causa Contestada secularizada.

ASSUNTO(S)

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