Relações entre desenvolvimento linguistico e neuromotor : a aquisição da duração no portugues brasileiro

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1999

RESUMO

O trabalho apresenta uma discussão sobre as relações entre desenvolvimento lingüístico e neuromotor a partir do estudo da aquisição da duração no português brasileiro (PB). Ele parte de uma literatura que compara grupos de crianças de diferentes faixas etárias a um grupo controle de adultos para medidas de duração. As hipóteses encontradas para explicar os maiores valores de duração e a maior variabilidade na fala infantil referem-se a fatores neuromotores e estatísticos. Faz-se uma crítica aos experimentos dos estudos resenhados e persegue-se a hipótese de que, no PB, um fator lingüístico, o grau de acentuação do segmento acústico em função da posição por ele ocupada na palavra e na sentença, influencia a diferença encontrada entre adultos e crianças, para medidas de duração, isso porque, as crianças não reduzem os segmentos em posições não-acentuadas. Realizou-se um experimento no qual sentenças pronunciadas pela pesquisadora eram repetidas três vezes pelos sujeitos, tendo-se três pares formados por: criança de 4 anos e 1 mês (M) e pesquisadora; criança de 4 anos e 9 meses (E) e pesquisadora; e a professora delas (S) e a pesquisadora. Segmentos acústicos vocálicos, consonantais e do tamanho de sílabas foram demarcados para suas posições de acento nas palavras (pré-tônica, tônica e pós-tônica) e na sentença (início e final absolutos). Por meio de uma análise via teste t, os sujeitos dentro de cada par foram comparados para a média e o desvio-padrão das diferenças de duração de cada tipo de segmento acústico, em cada posição de acento. A hipótese a ser testada era se as médias das diferenças de duração entre os sujeitos de cada par seria estatisticamente igual a zero. Encontrou-se que a criança mais nova (M) já adquiriu a implementação do parâmetro de duração para a realização do acento, embora ainda não o tenha adquirido para os elementos não-acentuados que participam da construção das alternâncias rítmicas do PB. Já a criança E está muito próxima do padrão adulto para a duração de segmentos vocálicos, mas não para a duração de consoantes, sílabas e palavras. Quanto à variabilidade,embora M e E apresentem valores maiores de desvios-padrão, seus contornos de duração para os vários tipos de segmentos acústicos, nas várias posições de acento, não são díspares em relação àquele obtido para o par formado pelos adultos. Nos segmentos acústicos do tamanho de sílabas e palavras, há uma maior coordenação com sobreposição de gestos na fala adulta, levando, aparentemente, a uma maior coarticulação que na fala infantil. A partir da adoção de modelos dinâmicos, a maior variabilidade da fala infantil, na produção de segmentos acústicos vocálicos e consonantais, é vista como uma menor coordenação entre gestos articulatórios e uma menor freqüência de oscilação dos articuladores, que dificulta a produção de segmentos reduzidos e estáveis nas posições não-acentuadas. Propõe-se que as crianças estudadas possuem um oscilador para variações macrorrítmicas, provavelmente ao nível da sentença, do contorno duracional do PB, mas não para variações ao nível da sílaba, como é demonstrado pela menor coordenação e coarticulação entre os gestos articulatórios envolvidos em sua produção

ASSUNTO(S)

lingua portuguesa language acquisition aquisição de linguagem portuguese language (phonetics) acustica acoustic

Documentos Relacionados