Reestruturação produtiva e organização do trabalho na industria de autopeças do Brasil

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2003

RESUMO

A posição ocupada pelo Brasil na divisão internacional do trabalho, há muito lhe reservou condições diferenciadas de desenvolvimento econômico e social, com relação aos países capitalistas centrais. A constituição da indústria automobilística brasileira, a partir dos anos 50, expressa claramente tais diferenciações, entre cujas causas está a atuação dos governos e da classe trabalhadora nacional frente ao empresariado nacional e internacional Nesta perspectiva, esta dissertação propõe-se a explorar as características dos sistemas de organização do trabalho das empresas do setor de autopeças brasileiro, adotando-se a hipótese de que os dois principais sistemas de organização utilizados pela indústria automobilística nas economias centrais, o sistema tayloristalfordista e o sistema toyotista, sofreram significativas transformações ao serem implementados no Brasil. Baseando-se numa revisão bibliográfica, apresentam-se os elementos principais destes sistemas de organização, através de uma contextualização histórica que permita identificar os objetivos que nortearam as experiências de sua criação e desenvolvimento, bem como salientar as necessidades que estiveram na base de sua posterior difusão internacional, especialmente aos países de economia periférica, como o Brasil. Na análise do caso brasileiro, busca-se compreender as causas e conseqüências das transformações sofridas por estes sistemas em suas adaptações no setor de autopeças, considerando-se dois períodos: dos anos 50 até a década de 70, tratando-se da adaptação do sistema taylorista/fordista; dos anos 80 até o final da década de 90, período em que iniciou-se o avanço no Brasil do processo de reestruturação produtiva, em meio ao qual difundiram-se os sistemas de organização flexíveis, como o toyotista. As particularidades da formação da classe trabalhadora industrial brasileira, junto à intervenção estatal abrangente, implicaram em alterações no sistema taylorista/fordista em sua implementação no setor de autopeças, resultando em aspectos "predatórios" na alocação e no uso da força de trabalho pelas empresas, dos quais decorreram a manutenção de baixos níveis salariais, qualificação profissional e educacional insuficientes, altas taxas de rotatividade e grande informalidade no mercado de trabalho. Sobre este conjunto de fatores vieram a ser adaptados, a partir dos anos 80, os conceitos e técnicas relativos aos sistemas flexíveis de organização, como o toyotista, sob influência do recuo da ação protecionista estatal e à crescente organização e combatividade da classe trabalhadora. A abertura comercial, na década de 90, permitiu às montadoras instaladas no país a aplicação de estratégias globais quanto ao fornecimento de autopeças. Premido por novas exigências de preço e qualidade, pela concorrência externa e por ajustes econômicos recessivos promovidos pelo Estado, o setor de autopeças brasileiro sofreu uma intensa "desnacionalização", processo que, junto ao avanço dos sistemas de organização flexíveis, resultou na elevação do desemprego e em alterações no perfil de qualificação exigido aos trabalhadores. Tais mudanças, tendo sido acompanhadas por medidas de flexibilização na legislação trabalhista, impuseram, por fnn, grandes dificuldades ao movimento sindical A cadeia de autopeças brasileira adquiriu, desde então, uma configuração pela qual se consolidou o avanço diferenciado de inovações tecnológico-organizacionais, não apenas no que tange ao refinamento das adaptações realizadas no âmbito interno das empresas, mas nas relações estabelecidas entre estas enquanto clientes e fornecedoras.

ASSUNTO(S)

industria automobilistica - brasil teoria da organização trabalhadores da industria automobilistica - efeito de inovações tecnologicas mercado de trabalho sociologia industrial sindicatos - metalurgicos - brasil

Documentos Relacionados