Reabilitação de campos ferruginosos degradados pela atividade minerária no Quadrilátero Ferrífero / Reabilitation of campo rupestre over ironstones outcrops degraded by the minning activity on the Iron Quadrangle

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

19/02/2010

RESUMO

As áreas de canga apresentam uma série de restrições ao estabelecimento das espécies vegetais, tais como solos rasos, com baixo teor de umidade e nutrientes, estrutura deficiente, além de uma grande amplitude térmica diária. A alta especialização da vegetação contribui com a elevada taxa de endemismo que caracteriza a flora dos campos ferruginosos. Os campos rupestres ferruginosos estão entre os ecossistemas com maior perda de habitat, menor área de ocorrência e de representatividade em unidades de conservação. A estreita associação entre a lavra de minério de ferro e esses campos levou esta formação a uma condição especial de vulnerabilidade. Esse trabalho teve como objetivo propor abordagens para a reabilitação de campos ferruginosos no Quadrilátero Ferrífero (QF) considerando aspectos técnicos relacionados à aplicação do topsoil associado à canga, reintrodução de plantas provenientes de operações de resgate e regeneração natural. Pretende-se com isso, propor práticas de manejo que conciliem a exploração mineral no QF e a conservação da biodiversidade desses ambientes. Para isso, montou-se experimento em pilha de estéril da mina Capão Xavier localizada em Nova Lima, (QF) - MG. Foram estabelecidas 32 parcelas experimentais de 50 m2, referentes a oito tratamentos com quatro repetições. Os tratamentos foram compostos a partir de combinações de duas espessuras de canga e topsoil associado (20 e 40 cm) e quatro níveis de adubação. O experimento foi montado em esquema de parcelas subdivididas, sendo o efeito de camadas nas parcelas e de doses nas subparcelas, distribuídas em um delineamento em blocos casualizados. As mudas provenientes do resgate permaneceram por dois anos em condições de céu aberto no viveiro. Em cada parcela foi feito o plantio do mesmo número de mudas seguindo o mesmo arranjo espacial. A avaliação dos tratamentos foi feita aos dez meses após o plantio pelo índice de cobertura vegetal e sobrevivência das espécies plantadas e da regeneração natural. Paralelamente, foi feita avaliação da biomassa da parte aérea de Melinis multiflora uma vez que, instalado o experimento, houve a suspeita de que a utilização de fertilizantes poderia favorecer o desenvolvimento desta espécie invasora em detrimento das demais. Não houve diferença significativa entre as médias de sobrevivência das mudas plantadas para as diferentes espessuras de substrato. A sobrevivência das plantas também não respondeu significativamente ao aumento de doses de fertilizantes. Isso pode indicar que o resgate de flora é uma estratégia eficaz de reabilitação. O curto período de avaliação, porém, não permite dizer que a adubação não terá efeito sobre a sobrevivência destas plantas ao longo do tempo. As espécies que apresentaram índices de sobrevivência superiores a 70% foram Laelia crispata, Artdrocereus glaziovii, Vrisea minarum, Bilbergia elegans, Clusia sp, e Cupania sp. Houve diferença significativa entres as médias de cobertura vegetal para as camadas de 20 e 40 cm e foi possível ajustar modelos de regressão relacionando cobertura vegetal com doses. A aplicação das mesmas doses de fertilizantes em ambas as camadas, não fez com que as parcelas com camadas de 20 cm alcançassem índices de cobertura vegetal semelhantes aos índices das parcelas com 40 cm, evidenciando que o efeito das doses não elimina as diferenças causadas pelo efeito das espessuras. Vale ressaltar que não existe evidência de que maior cobertura vegetal irá implicar em reabilitação mais adequada, visto que poderá implicar em competição indesejável pelo aumento de espécies ruderais invasoras. Houve aumento linear da produção da biomassa da parte aérea de Melinis multiflora em resposta aos níveis de adubação. Os substratos expostos nos taludes apresentam características químicas limitantes ao desenvolvimento da vegetação e a aplicação de fertilizantes no material de canga, originalmente pobre, favoreceu a colonização dessa espécie invasora nas parcelas. As médias da produção da biomassa da parte aérea de Melinis multiflora em função da espessura da camada de cobertura (canga + topsoil) apresentaram diferença significativa a partir da dose correspondente ao uso de 60% da quantidade de fertilizantes recomendada. A partir dessa dosagem, a maior produção de biomassa do capim gordura, pode ser atribuída ao favorecimento do crescimento do sistema radicular das plantas devido à maior disponibilidade de água e nutrientes em um volume maior de substrato. Ainda que os resultados apontem maior desenvolvimento de regeneração natural e cobertura vegetal para o uso de capeamento de 40 cm de espessura utilizando 908 kg/ha de termofostato, 554 kg/ha de sulfato magnesiano e 2.000 kg/ha de N-P-K, deve-se entender que os demais tratamentos testados favoreceram o desenvolvimento de outros arranjos ambientais estabelecendo uma situação de mosaico muito comum nos campos naturais. Além disso, a definição do programa de reabilitação deverá levar em consideração a disponibilidade de material de canga e o custo associado a esta operação.

ASSUNTO(S)

revegetação canga laterita quadrilátero ferrífero ciencia do solo revegetation canga laterite iron quadrangle

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