Psicopatologia dos sintomas negativos da esquizofrenia : síndromes deficitária e não-deficitária / The psychopathology of schizophrenia s negative symptoms : schizophrenia with and without the deficit syndrome
AUTOR(ES)
Clarissa de Rosalmeida Dantas
FONTE
IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
DATA DE PUBLICAÇÃO
25/03/2011
RESUMO
A Síndrome Deficitária (SD) da esquizofrenia, um subtipo definido pela presença de sintomas negativos proeminentes, persistentes e primários, hipoteticamente representa uma doença específica, distinta das formas não-deficitárias da esquizofrenia. Objetivos: Identificar, em uma amostra brasileira, diferenças sócio-demográficas, de história psiquiátrica, psicopatológicas, de qualidade de vida e de desempenho cognitivo entre pacientes com e sem SD. Métodos: Categorizamos 85 pacientes esquizofrênicos quanto à presença da SD utilizando a versão brasileira do Schedule for the Deficit Syndrome (SDS). Aqueles que apresentavam sintomas negativos proeminentes e persistentes cuja natureza primária ou secundária não pôde ser estabelecida, usualmente seriam classificados como não-deficitários segundo as regras do SDS, mas foram categorizados em um grupo chamado não-deficitários duvidosos. Para a avaliação de sintomas positivos, negativos e depressivos, de insight e de qualidade de vida foram utilizadas as escalas: BPRS, SAPS, SANS, Calgary de Depressão, Roteiro para a Avaliação do Insight Versão Expandida (SAI-E) e Escala de Qualidade de Vida (QLS). De forma independente foram aplicados os testes neuropsicológicos: MINI-MENTAL; as subescalas Raciocínio Matricial, Vocabulário, Símbolos, Completar Figuras e Dígitos da WAIS; Trilhas A e B; Teste de Nomeação de Boston; Figuras Complexas de Rey e Tarefas de Fluência Verbal. Uma análise fatorial das variáveis neuropsicológicas gerou um modelo com um único fator que explicou 56,2% da variância observada, denominado fator cognitivo. Escores fatoriais foram calculados e comparados entre os três grupos. Resultados: Satisfizeram critérios para a SD, 29 pacientes (34,2%), 12 pacientes foram categorizados como não-deficitários duvidosos (14,1%) e 44 como não-deficitários de certeza (51,8%). Comparados aos não-deficitários de certeza, pacientes deficitários eram significativamente mais inativos, tinham maior tempo de doença mental, maior gravidade de psicopatologia geral e de sintomas negativos, pior qualidade de vida e pior desempenho cognitivo global (avaliado pelo escore do fator cognitivo) e em tarefas de fluência verbal. Pacientes deficitários tenderam a apresentar pior insight, mas tal tendência desapareceu quando a análise foi controlada pelo escore do fator cognitivo. Comparados a pacientes não-deficitários de certeza, não-deficitários duvidosos eram significativamente mais inativos, apresentavam menor escolaridade, início da doença mais precoce, maior número de hospitalizações, maior gravidade de psicopatologia geral e de sintomas negativos, pior qualidade de vida e pior desempenho em tarefas de fluência verbal. Não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos deficitários e não-deficitários duvidosos em relação a qualquer uma das variáveis estudadas. Conclusões: As características encontradas no grupo deficitário em relação ao não-deficitário de certeza são consistentes com vários dos fatores associados à SD relatados na literatura, mas devem ser interpretadas à luz da própria definição e dos procedimentos para diagnóstico da SD e da preponderância de sintomas negativos neles implicada. Dentre tais características, o pior funcionamento cognitivo global parece ser um importante mediador da relação entre SD e manifestação do insight. As diferenças significativas observadas entre pacientes não-deficitários duvidosos e não-deficitários de certeza apontam limitações da categorização dicotômica de pacientes esquizofrênicos quanto à presença da SD e apóiam a incorporação de uma concepção dimensional da sintomatologia deficitária da esquizofrenia em avaliação clínica e pesquisa.
ASSUNTO(S)
esquizofrenia psicopatologia cognição testes neuropsicológicos schizophrenia psychopathology cognition neuropsychological tests
ACESSO AO ARTIGO
http://libdigi.unicamp.br/document/?code=000788853Documentos Relacionados
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