Processos de recontextualização no ensino de Ciências da escola do campo: a visão de professores do sertão sergipano

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Foi a partir da interação entre desenvolvimento científico, econômico e tecnológico com as implicações sociais envolvidas que surgiu um importante movimento pedagógico denominado Ciência, Tecnologia e Sociedade. A partir disso, o ensino de Ciências passou da fase em que apresentava seus conteúdos como algo neutro, pronto e imutável, para ser entendido como processo, como construção humana. Nessa perspectiva, é fundamental pensar numa alfabetização científica ligada à realidade em que o educando está inserido, respeitando suas especificidades e modos de ler o mundo. Reflexões essas que coincidem com os pressupostos do movimento Por uma Educação do Campo. Surgido a partir de 1997, esse movimento defende uma escola do campo como um lugar em que se produz o conhecimento a partir da relação direta com a cultura que os sujeitos estabelecem entre si e com o meio onde vivem. Portanto, essa pesquisa buscou investigar em que medida as dimensões recontextualizadoras são desenvolvidas nas aulas de Ciências em escolas do campo do sertão sergipano. Essas considerações prenunciam uma abordagem metodológica qualitativa na presente investigação, que teve como ferramentas de dados: entrevista e questionário junto aos professores de Ciências de 5 a 8 séries do ensino fundamental dessas escolas. Objetivou-se interrogálos quanto às suas práticas pedagógicas: de que maneira elas são desenvolvidas, se abordam conteúdos com a problemática local, quais estratégias são utilizadas para suprir algumas deficiências caso apresentem, que recursos eles se valem para ajudar em suas aulas e a quais conteúdos eles atribuem um maior cuidado ao abordar, devido ao fato de serem mais difíceis para ensinar ou de serem aprendidos pelos alunos. Constatou-se que os professores pesquisados conhecem os principais problemas enfrentados pelos alunos miséria, condições precárias de vida, tipo e condições de trabalho. No entanto, a maioria tem uma visão que não supera a do senso comum em torno dessa realidade, não refletem sobre aquilo que vêem e precisam lidar no cotidiano escolar. Além disso, demonstraram possuir um certo nível de conhecimento acerca da importância de os alunos do campo serem alfabetizados cientificamente. Entretanto, alguns conhecem apenas o aceitável para ser professor de um público com tantas necessidades de emancipação. Outros parecem avaliar o contexto dos alunos com mais cuidado e proximidade. Da mesma forma, alguns deram razões mais superficiais para essa necessidade de se ensinar Ciências, de alcance apenas pessoal. Enquanto outros trouxeram exemplos mais globais, envolvendo aspctos socioculturais e políticos em determinadas situaçes. Isso nos faz questionar quanto à formação inicial recebida por esses professores, visto que os cursos de licenciatura configuram-se de modo a não comportar as necessidades da educação do campo, formando profissionais deficientes para atuar na maior demanda de escolas.

ASSUNTO(S)

cciences teaching recontextualisation educação do campo field education ensino de ciências educacao recontextualização

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