Processo de construção de um coletivo de trabalho bilíngüe: profissionais surdos e ouvintes em uma escola especial para surdos

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

A presente pesquisa pretende compreender o processo de construção de um coletivo de trabalho, em uma escola bilíngüe para surdos, na Grande São Paulo. Para alcançar tal objetivo, parte-se do principio do enunciado dialógico, como desenvolvido pelo "círculo de Bakhtin", ao considerar a linguagem como produto da atividade de indivíduos socialmente organizados, interagindo em determinado momento histórico dessa sociedade e refletindo, pelo uso das palavras, nas mais diferentes situações de interação social, os valores por ela partilhados. Adota, também, uma concepção de trabalho em que ele não é considerado simples execução de tarefas, mas sim um lugar de "usos de si", em que o sujeito em todo o seu ser é convocado a agir, utilizando recursos muito mais vastos do que seu trabalho deixa aparecer, desenvolvida no enfoque ergológico do trabalho (Schwartz, 1997, 1998,2000,2003). O dispositivo metodológico, construido para esta pesquisa, a "confrontação com as imagens", é um deslocamento do método da autoconfrontação cruzada (Faita, 1995; Clot e Faita, 2000; Clot et alii, 2001), e, como o princípio metodológico original, utiliza a imagem como suporte das investigações e favorece a produção e captação de textos advindos de situações de enunciação diversas, ocorridas em momentos anteriores. Dessa forma, o método possibilitou aos protagonistas terem acesso às relações que se estabelecem no cotidiano escolar - em momento posterior à atividade, propriamente dita, e por uma perspectiva exterior a ela - inédita pare eles. Suas palavras as revelaram, por meio do diálogo que estabeleceram com as palavras de seus colegas de trabalho, com os discursos na educação de surdos, com os discursos médico e fonoaudiológico, entre outros. Devido a suas apreciações frente ao que é dito por esses "outros" do discurso, colocaram em evidência a problemática das relações em um ambiente de trabalho heterogêneo e novo na maior parte das escolas do país: as equipes formadas por profissionais surdos e ouvintes. Os comentários dos dois protagonistas frente às imagens no vídeo constituíram-se, assim, no material analisado. Tomou-se, como categoria análise, o "discurso relatado" (Bakhtin Nolochinov, 1929/1999), de maneira a revelar a presença do "outro", e de seus discursos, inseridos nos relatos dos protagonistas. Os resultados mostraram o uso preponderante do discurso relatado de "estilo pictórico", característico de uma atitude responsiva ativa dos protagonistas em relação aos "outros" do discurso de maneira subjetiva, isto é, como modo de pensar e falar, que implica um julgamento de valor do autor sobre esse modo, criando condições para que a individualidade do falante se estabilize, ao ponto de formar uma imagem. No caso desta pesquisa, as respostas dos protagonistas às palavras do "outro", exprimiram surpresa, desacordo, aceitação, ironia, por exemplo, e revelaram as dificuldades enfrentadas pela equipe, principalmente em relação ao intérprete de LIBRAS, ao instrutor de LIBRAS e ao professor ouvinte. Essas respostas permitiram revelar características das relações de trabalho, nas quais as noções ergológicas de "competência" e de "uso de si" adquirem relevância

ASSUNTO(S)

surdos -- meios de comunicacao surdez surdos -- educacao (bilinguismo) dialogism bilingual working collective surdos (cultura) dialogismo linguagem de sinais deafness ergology ergologia coletivo de trabalho bilíngüe linguistica aplicada

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