Práticas alternativas: um estudo exploratório

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1996

RESUMO

Este trabalho propõe uma aproximação exploratória ao polêmico tema das "práticas alternativas" pela via de um estudo do apelo do indivíduo para as mesmas. Este apelo guarda, em si mesmo, o segredo do fascínio e do poder que essas práticas exercem sobre o indivíduo (Benjamin). De outro lado, o apelo origina-se em crises e pontos críticos (Heller) enfrentados pelos indivíduos no decorrer de suas vidas. A pesquisa situa-se no horizonte teórico que caracteriza as relações entre misticismo e sociedade como "paradoxo criador" (Scholem), paradoxo que permite abordar a dimensão do indivíduo como produtor da sociedade e não apenas como produto desta. No contexto dessas relações paradoxais, os conceitos de metamorfose (Ciampa, Canetti), experiência mística (Scholem), iluminação. profana (Benjamin) e conhecimento (Benjamin, Scholem) confluem para delimitar o terreno no qual se propõe que aquele apelo deva ser enxergado. Os conceitos de utopia e redenção na perspectiva da reconciliação (Adorno) contribuem para completar o quadro teórico. O material colhido esta constituído por apontamentos, depoimentos e fragmentos de história de vida de indivíduos que apelam ou apelaram para "práticas alternativas". Prevenindo-se contra o preconceito de que só pessoas ignorantes apelam para "essas coisas", os sujeitos da pesquisa foram selecionados seguindo o critério de que, além de apelar para as práticas em questão, possuam formação universitária, particularmente nas áreas - assim chamadas - da "saúde", mas não exclusivamente. Desta maneira, depoimentos de médicos (homeopatas, espíritas, astrólogos), psicólogos (tarólogos, floralistas) e de um historiador-astrólogo formam o fundamental do material. Referência a parte deve ser feita ao caso de Rosa, psicóloga antroposófica, cuja narrativa foi considerada exemplar para a pesquisa, material incluído na sua totalidade. A análise crítica realizada confirma a relação estabelecida entre crise e apelo ao misticismo. Entretanto, não necessariamente se conclui que o apelo para práticas alternativas é caminho para a experiência mística ou iluminação profana, vias régias para a relação entre experiência e conhecimento. Pelo contrário, o material recolhido permite concluir que há casos -e muitos- em que se trata de uma falsa-reconciliação que mascara as frestas abertas pelas crises, prenche de conteúdos imaginários o horizonte da utopia e afasta, pela ausência de crítica, as energias da redenção. Finalmente o trabalho oferece algumas reflexões, sem caráter conclusivo, a respeito das práticas alternativas e das suas relações com o tema da identidade pessoal, a partir da utilização do conceito de afinidades eletivas (Lowy) e de raízes emocionais do pensamento (Scholem). O trabalho pretende, ainda, sensibilizar para a necessidade de que o tema seja objeto de pesquisas a nível universitário, de preferência através de núcleos de pesquisa interdisciplinares, para eliminar um vazio na pesquisa e se contrapor à tendencia, quer de profissionais quer de grupos religiosos ou pseudo-religiosos, a se apropriarem daquilo para o qual as práticas apontam, ampliando dessa maneira, o campo da psicologia pela recuperação como objeto de estudo do marginalizado, do reprimido do excluído e/ou negado por escolas psicológicas dominantes

ASSUNTO(S)

astrologia homeopatia antropologia praticas alternativas -- pesquisa social psicologia social

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