Pedagogia intergeracional numa família trabalhadora negra do Rio Grande do Sul

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

O saber operário, no caso estudado nesta tese, nasce na família, no trabalho e nas escolas profissionalizantes, reproduz-se pelas relações familiares e disseminase através dos ambientes de trabalho dos membros da família. A reprodução no seio da família não é reprodução simples, mas reprodução ampliada e sofisticada, uma vez que, de um lado, o mundo da produção tem evoluído de um mercado primordialmente de bens tangíveis para um mercado que privilegia bens intangíveis; de outro lado, os sujeitos das novas gerações não se vinculam necessariamente ao ambiente do trabalho físico ou fabril, mas diversificam suas inserções, inclusive no mundo docente e acadêmico. O caso estudado é a Família Dornelles, tomando como membro fundador Armando Dornelles e focando o pensamento e a ação de sua filha Leni Vieira Dornelles e de sua neta Amanda Eccel Dornelles, ambas pedagogas com estudos pós-graduados. As entrevistas realizadas com esses três membros da Família Dornelles permitem concluir que é possível afirmar a existência de uma pedagogia intergeracional na família, estruturada sobre cinco pilares: responsabilidade, respeito, honestidade, amorosidade e solidariedade. Adicionalmente, é possível concluir que o pensamento gerado na família operária amplia-se e dissemina-se através da ação dos seus membros nos respectivos ambientes de trabalho. Privilegia-se, para a investigação, dois membros docentes, e o que se constata é que uma das possíveis conexões pedagógicas do pensamento operário se dá pela ação docente, de pesquisa e de extensão. Os valores adquiridos na família acompanham os sujeitos em sua vida adulta e são operacionalizados e disseminados através da prática acadêmica no âmbito da Universidade e nos eventos profissionais e científicos internos ou externos à instituição onde se dá o vínculo profissional. As entrevistas permitem, também, detectar que, entre as três dimensões – operário, gaúcho, negro – o ser negro, na Família Dornelles, tem menor peso específico do que ser gaúcho ou ser operário (trabalhador). Ser gente vem primeiro, depois vem o ser operário (trabalhador), ser gaúcho, ser negro. Cada uma destas dimensões da cultura e da personalidade dos sujeitos pesquisados participa do seu condicionamento social, todavia o que os impulsiona é o sentir-se em condição de disputa com outros que nasceram privilegiados pela cor ou situação econômico-social. A condição genérica do humano é que dá consistência à formulação e vivência dos valores, subsidiada pela situação de classe, etnia e pertencimento territorial. Estudos como este, têm uma forte referência na contribuição de Boaventura Sousa Santos e Carlo Ginzburg, que, respectivamente, nos seus estudos “Conhecimento prudente para uma vida decente: Um discurso sobre as ciências revisitado” e “El queso y los gusanos”, conectam um foco a um período histórico. Santos preocupa-se em produzir, a partir da ausência, a emergência do sujeito. Ginzburb propõe um método de estudo de caso em que busca relações genéricas com totalidades, permitindo abstrair generalidades, sem com isto ter a pretensão de obter generalizações, que, supostamente, seriam válidas para outras circunstâncias, concomitantes no tempo ou no espaço de ocorrência do caso em estudo.

ASSUNTO(S)

relações familiares family relationships construction of knowledge relações intergeracionais construção do conhecimento class worker education black negros

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