PARA SAIR DO ENTRE-DUAS-LÍNGUAS: A TRADUÇÃO COMO PRÁTICA DE DESCONFINAMENTO

AUTOR(ES)
FONTE

Trab. linguist. apl.

DATA DE PUBLICAÇÃO

2020-08

RESUMO

RESUMO Em 1988, Derrida formulava um enunciado programático para os filósofos, jubilatório para os tradutores: “Plus d’une langue!”. Este artigo parte de uma retomada da palavra de ordem derridiana, uma re-petição que permite esgueirar-se para um pensamento vivo, intimamente ligado a uma aposta da tradução. Depois de dar a essa aposta seu alcance amplo, busca-se examinar como, em cada língua, o “Plus d’une langue” funciona como agenciação-desconstrução, isto é, como operação imanente e intensiva de tradução infralinguística. Ora, se essa multiplicidade interna às línguas como redes idiomáticas aponta para um potencial de transmissão “aquém” do encontro entre duas línguas, é esse encontro entre as línguas como singularidades idiomáticas que define tradicionalmente a prática da tradução como transformadora e, eventualmente, trânsfuga. Nessa perspectiva, o avesso da reflexão proposta releva o paradigma da tradução como circulação entre-duas-línguas, para problematizá-lo e avaliar a possibilidade de ultrapassá-lo. Para além da topologia do entre, e se houver mais de duas línguas, traduzir é ainda concebível? Isso implica uma tentativa de forçagem e, talvez, de oxigenação das teorias da tradução historicamente confinadas pela Linguística. O resultado desse esforço, ele próprio guiado pela radicalização final da lógica do “Plus d’une langue” mediante um “Encore plus de langues”, é uma interrogação sobre a tradução como onda de choque translinguística e sobre o escândalo do ato do tradutor. O que sobra da arte da tradução quando o tradutor “cai fora” do sagrado pacto de tradução e recusa, na ausência patenteada de relação, qualquer reciprocidade entre as línguas?

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