Ontogenese floral com enfase no estudo do gineceu em Apocynaceae s.l / Floral ontogenesis with emphasis in the study of gynoecium in Apocynaceae s.l

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

Apocynaceae s.l. é uma das maiores famílias de angiospermas com 4300-4800 espécies, está bem representada nos biomas brasileiros e possui expressiva importância fitoquímica, entre outros aspectos. Os sistemas de classificação da família têm refletido lacunas no conhecimento de sua morfologia, particularmente quanto a caracteres relativos ao gineceu, que em geral apresenta uma hemisincarpia peculiar, ocorrendo também espécies sincárpicas. Visando a contribuir nesta área, o estudo em microscopia eletrônica de varredura (MEV) do desenvolvimento floral de 26 espécies desta família foi realizado, abrangendo 15 de suas 19 tribos (sensu Endress &Bruyns). Ensaio piloto com Ditassa retusa Mart. foi executado e quatro outras espécies selecionadas foram estudadas anatomicamente: Hancornia speciosa Gomes, Himatanthus obovatus (Müll. Arg.) Woodson, Mandevilla myriophylla (Taub.) Woodson e Prestonia coalita (Vell.) Woodson. Dois tipos de padrões ontogenéticos foram identificados para o gineceu. O primeiro baseia-se na iniciação, que pode ser a partir de uma concavidade situada em um domo ou mergulhada no receptáculo. Não há correlação entre o tipo de iniciação do gineceu e a posição do ovário na flor adulta. A maioria das espécies apresentou iniciação do gineceu a partir de uma concavidade mergulhada no receptáculo, originando ovário supero na flor adulta. A iniciação a partir de um domo aparentemente c homoplásica, tendo evoluído independentemente em Rauvolfioideae e Apocynoideae. Uma região congenitamente conata foi observada na iniciação do gineceu em todas as plantas examinadas, sendo mais reduzida em espécies dc Asclepiadoideae. O segundo padrão ontogenético relativo ao gineceu refere-se à origem de sua conação, que pode ser de três tipos: 1) sincárpico congenitamente, 2) hemisincárpico de origem mista ou 3) sincárpico de origem mista, sendo que o segundo tipo parece representar a condição plesiosomórfica na família. A descrição da sincarpia mista em Prestonia coalita vem corrigir as descrições taxonômicas desta espécie que a tratam como apocárpica. A região estéril na base do ovário foi caracterizada anatomicamente como ginóforo em Hancornia speciosa. A identificação de regiões conatas congênita ou posgenitamente foi essencial para o estabelecimento dos tipos de gineceu. Neste sentido, o teste com o Preto de Sudão B mostrou-se ineficaz, mas evidenciou estruturas secretoras, resultando em algumas contribuições para o conhecimento nesta área. Características ontogenéticas foram identificadas em relação aos demais verticilos florais. A iniciação das sépalas é assíncrona dextrorsa ou sinistrorsa, originando uma prefloração quincuncial, raro valvar. Os coléteres calicinais, quando presentes, apresentam iniciação assíncrona entre si e temporalmente associada à do gineceu; estas estruturas não ocorrem no cálice dc seis espécies estudadas; coléteres marginais foram constatados nas sépalas de Hancornia speciosa e Mandevilla myriophylla. A iniciação intraverticilos para a corola c para o androceu é síncrona, com algumas exceções que constituem novidade para a família. Os primórdios das pétalas e dos estames podem apresentar iniciação simultânea entre si ou as pétalas iniciam-se primeiro; este último evidenciou-se como um estado de caráter derivado, presente notadamente entre as Asclepiadoideae. O nectário estruturado forma-se a partir da região congenitamente conata do gineceu, constituindo-se uma estrutura apendicular nas espécies de Rauvolfioideae e Apocynoideae em que está presente. Entre as peculiaridades anatômicas florais das espécies examinadas citam-se: 1) conação posgênita das lacínias na formação da região superior do tubo corolino; 2) diferentes graus de complexidade e conação entre os estames; 3) diferentes pontos de adnação entre androceu e gineceu; 4) presença de hipoderme secretora nos verticilos florais; 5) epiderme secretora ocorrendo na fauce da corola, apículos e cabeça do estilete, sendo que nesta última é composta por tricomas unicelulares ou por células epidérmicas dispostas em paliçada. Os resultados obtidos trouxeram contribuições para a caracterização de Apocynaceae s.l. e ilustram a gradação morfológica de seus diferentes caracteres, consolidando as subfamílias propostas por Endress &Bruyns. O estudo anatômico corroborou e complementou informações obtidas em MEV, demonstrando a importância da combinação dos dois tipos de abordagens para o conhecimento morfológico aqui apresentado.

ASSUNTO(S)

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