Óbito por dengue grave no Brasil, 2000 a 2005 : concordância da notificação em dois sistemas de informação e estudo caso-controle de fatores associados

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Introdução: O aumento das formas graves e óbitos por dengue observado no Brasil nos últimos anos demandam maior entendimento sobre a real magnitude da mortalidade por dengue e seus determinantes. Métodos: A partir dos dados de dengue do SINAN e SIM no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2005 foi realizado um estudo epidemiológico observacional, seccional e descritivo para analisar a concordância entre os óbitos por dengue notificados nestes dois sistemas de informação. Estudo caso-controle foi também conduzido para investigar fatores associados ao óbito por dengue grave utilizando três diferentes definições de caso (óbitos notificados ao SINAN, óbitos com confirmação laboratorial no SINAN e óbitos notificados no SINAN e SIM). O estudo utilizou abordagem hierárquica entre grupos de variáveis (demográficas, sócio-econômicas, de contexto epidemiológico, acesso a ações e serviços de saúde e clínico-laboratoriais) com regressão logística multivariada para investigar o efeito independente das variáveis de análise. Resultados: A concordância bruta e ajustada por chance (Índice Kappa), no período de análise, foi de 99,9% e 19,6%, respectivamente. Maiores concordâncias bruta e ajustada por chance (Índice Kappa) foram identificadas em 2002, ano com maior número de casos (99,9% e 28,2%, respectivamente). A proporção de óbitos concordantes variou de 0 a 33% entre as Unidades Federadas brasileiras, sendo que a região centro-oeste apresentou maior mediana. A população alvo do estudo caso-controle foi composta por 12.321 casos de dengue grave (1.062 casos e 11.259 controles). Algumas das variáveis associadas com o óbito por dengue grave foram: sexo feminino [OR (IC95%): 0,76(0,67-0,87)], idade maior de 50 anos [OR (IC95%): 2,29(1,59-3,29)], residentes em áreas rurais [OR (IC95%): 2,84(2,19-3,69)], hospitalizados [OR (IC95%): 1,42(1,17-1,73)], contagem de plaquetas de 50.001 a 100.000 células por mm3 [OR (IC95%): 0,56 (0,36-0,87)] e hematócrito elevado [OR (IC95%): 2,46(1,85-3,28)]. Essas associações se mantiveram também quando as outras definições de caso foram utilizadas na análise de regressão logística. Porém, para algumas variáveis (ex: prova do laço positiva, sangramentos leves e escolaridade menor de quatro anos) foi observada perda da associação quando definições de caso mais específicas foram utilizadas, sugerindo a possibilidade de viés de seleção. Conclusões: Foi identificada baixa concordância de óbitos por dengue entre o SINAN e o SIM, e associação entre óbito por dengue grave e características demográficas, sócio-econômicas, epidemiológicas, marcadoras de acesso e organização de serviços de saúde e sinais de gravidade. Estes resultados reforçam a necessidade de aperfeiçoamento dos sistemas de informação em saúde, das estratégias de vigilância epidemiológica da dengue e da organização de serviços de saúde quanto ao acesso e a qualidade da assistência prestada aos pacientes e podem apoiar intervenções que visem a prevenção do óbito por dengue no Brasil.

ASSUNTO(S)

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