O mal-estar docente : um estudo da psicodinâmica do trabalho a partir de relatos de professores do ensino fundamental do Distrito Federal

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Esse trabalho descreve o mal estar docente num estudo da psicodinâmica do trabalho a partir dos relatos de professores do Ensino Fundamental do Distrito Federal. O estudo fornece uma discussão sobre a experiência do trabalho docente na Capital Federal, destacando a complexidade deste trabalho marcado pelos ideais da construção de Brasília. Sendo esta cidade construída para abrigar a capital do país, a educação deveria estar à altura deste ambicioso projeto. Assim, a idealização em torno da nova capital atravessou um projeto de qualidade que marcou a formulação do sistema educacional pautado por uma atenção em relação ao bem estar docente, ou seja, para a melhor cidade do país, a melhor educação e os melhores docentes. Para a fundamentação teórica, o estudo foi guiado pelos teóricos da psicodinâmica do trabalho. Na busca dos objetivos expostos, realizou-se uma pesquisa qualitativa que se constituiu por entrevistas com treze professores da Secretaria de Educação do Distrito Federal, distribuídos em tempo de docência variando de: 0 10; 11 20 e 21 30 anos. A coleta de dados foi realizada a partir de entrevistas semi-estruturadas guiadas por um roteiro com eixos temáticos e analisadas a partir da análise de conteúdo. Identificou-se a partir da análise das entrevistas, que o mal-estar docente assume variações em relação ao tempo de docência e ao período histórico no qual a docência se iniciou. Assim, podem-se destacar alguns elementos relacionados aos sofrimentos e às estratégias de defesa contra a angústia no trabalho referente aos docentes que iniciaram suas atividades nos últimos dez anos. Esses sujeitos se protegem contra o sofrimento pela via da idealização do trabalho, como uma forma de resistência frente às transformações do real do trabalho, tais como: a indisciplina dos alunos e as políticas educacionais desencontradas. Em relação aos sujeitos com atividades entre 11-20 anos de docência, destacou-se que o modo privilegiado de sofrimento vivido se refere à falta de reconhecimento tanto dos alunos e de seus familiares quanto do sistema educacional. Esses profissionais sentem que existe a perspectiva de uma aposentadoria sem o reconhecimento que eles tanto almejavam. Desse modo, uma das estratégias de defesa individual identificada foi o distanciamento do trabalho na forma de um desencanto. Os docentes com 21-30 anos de atividades, apresentaram em suas falas um sofrimento quase nostálgico, referente a um período no qual, segundo eles, a educação e o educador eram valorizados. As estratégias de defesa variam de uma posição esperançosa de mudança na educação, associada muitas vezes a uma militância política. Esse estudo nos conduz a melhor compreender de que modo o tempo de docência associado às mudanças sociais e políticas da educação na cidade de Brasília, contribuíram para o sofrimento docente e fragilizaram o lugar do trabalho como complemento da identidade para o sujeito. Além disso, nos aponta para o fato de que nem sempre o docente constrói estratégias eficientes para enfrentar os desafios de sua atividade, desse modo, não consegue vivenciar seu trabalho como significativo, o que gera um processo de permanente insatisfação.

ASSUNTO(S)

qualidade (educação) teacher - uneasiness teaching practice educacao prática de ensino trabalho docente ensino fundamental -distrito federal (brasil) professor - mal-estar

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