O estatuto epistemológico do conceito de ideologia científica segundo Georges Canguilhem / Epistemological status of concept of scientific ideology second G. Canguilhem

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

21/12/2011

RESUMO

Considerando a intenção de Canguilhem em reunir Epistemologia e História da Ciência, como alternativa metodológica diante de programas de historiografia científica contemporâneas, objetiva-se neste trabalho que esta levou à formulação do conceito de ideologia científica (1969), para suprir justamente deficiências apontadas pelo epistemólogo, presentes na prática dos historiadores da ciência contemporânea. O projeto epistemológico de Canguilhem consiste em dar à história da ciência um aspecto filosófico, ou seja, um aspecto de enfrentamento das dificuldades que dizem respeito às relações entre o verdadeiro e o falso ou aparente, dos estatutos respectivos da verdade e do erro. Este trabalho se constitui na investigação dos meandros históricos e epistemológicos que levaram Canguilhem à proposição do seu projeto epistemológico no âmbito da historiografia científica. O objetivo não é simplesmente fornecer bases históricas para a exposição, mas indicar, através do detalhamento do seu projeto, o estatuto epistemológico do conceito de ideologia científica. Delimita-se, o estudo de três textos metodológicos de Georges Canguilhem, não tanto como figura imposta do conhecimento acadêmico, mas especialmente como expressão de uma reflexão constante: O objeto da história da ciência (1966), O que é uma ideologia científica? (1969) e O papel da epistemologia na historiografia científica contemporânea (1970). Estes textos reunidos indicam, de certa forma, o alcance de suas reflexões filosóficas no campo da historiografia científica. São três estudos que abordam no sentido ontológico de sua caracterização, a temática da história das ciências no âmbito da constituição das ciências da vida. Canguilhem reage, nesses três estudos, de forma direcionada, contra uma ordem historiográfica pulverizada a partir de uma filosofia da história positivista na tradição de A. Comte. Sinteticamente, o postulado epistemológico que governa a história da ciência positivista segundo Canguilhem é a anterioridade cronológica é uma inferioridade lógica. Ou seja, a história das ciências é apenas uma injeção de duração na exposição dos resultados científicos. O grande problema que se coloca por Canguilhem frente a esse aforismo histórico que busca saber por que caminho a continuidade pode estabelecer e constituir, para tantos espíritos diferentes e sucessivos, um horizonte único não é mais a tradição e o rastro, mas o recorte e o limite. A mudança de perspectiva da tradição e do rastro para o recorte e o limite contém uma inversão no modo de fazer história das ciências, que implica em uma mudança de objeto e de método. A história das ciências deve ser a análise descritiva e a teoria das diferentes transformações que valem como fundação e renovação dos fundamentos científicos, e por isso deve, portanto, ocupar-se das questões epistemológicas concernentes à ciência que o historiador se dispõe a discorrer. Esquematicamente, o alcance deste trabalho é apontar que: (i) o conceito de ideologia científica está ligado intimamente ao problema epistemológico concernente ao modo permanente da constituição dos conhecimentos científicos; (ii) o entrelaçamento entre ideologia e ciência deve impedir a redução da história da ciência à insipidez de um quadro sem sombra de relevo, e a separação entre ciência e ideologia deve impedir que se considerem em continuidade na história da ciência os elementos que aparentemente se conservaram de uma ideologia

ASSUNTO(S)

epistemologia história da ciência ideologia científica g. canguilhem filosofia epistemology history of science scientific ideology

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