O espelho em cacos : análise dos discursos imbricados na questão da inclusão.

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

Este trabalho se organizou em torno das seguintes questões: Como se configuram os modos de funcionamento dos discursos governamental, escolar e acadêmico no campo da inclusão? Que efeitos de sentido podem ser produzidos, em reconhecimento, a partir das relações entre esses modos de funcionamento? Para chegar à noção de práticas discursivas, o trabalho partiu da concepção vigotskiana de mediação pelo signo, relacionada com a idéia de mediação pelo habitus em Bourdieu: a mediação semiótica entendida como inserida em um habitus. O conceito vigotskiano de internalização foi articulado com a idéia de que as pessoas internalizam modos de operar em suas praticas sociais, de que essas práticas se constituem (também) ideologicamente, especialmente pelo fato de que a prática discursiva permeia todas as demais práticas. Dessa forma, analisou-se os enfeixamentos discursivos dos discursos governamental, acadêmico e escolar (com base nas propostas metodológicas de análise de discurso de Orlandi e Verón, complementadas pela análise conversacional no caso do discurso escolar), fazendo emergir as vozes em debate no interior dessas práticas, e fazendo dialogar os textos produzidos a partir delas. Foram analisados três conjuntos de textos: a coleção Saberes e práticas da inclusão, como texto oficial que subsidia a formação de professores para a criação de escolas inclusivas, recortes de textos acadêmicos que se organizam em torno da definição de inclusão, apresentados em congressos relacionados com a área e quatro sessões de entrevistas realizadas com professores que atuam na interface entre educação especial e comum, no município de Marabá, Pará; o texto produzido a partir da análise interna de cada conjunto de textos e das relações estabelecidas entre eles, ainda que se situando no pólo de reconhecimento dos discursos, não deixou de remeter ao de produção na medida em que evidenciou formações discursivas próprias de um determinado habitus, de uma determinada configuração ideológica. A pesquisa indicou que as formações discursivas dominantes se organizam em torno de certos elementos: flutuações do lugar do professor nos discursos, oscilando entre um lugar de passividade, militante da inclusão e de agente da cidadania; cisão desse lugar do professor em dois, polarizando professores da educação especial/inclusiva com professores da educação comum; flutuações do lugar do governo, o qual desliza entre autoridade opressora, provedor, educador, ajudante; disfarces e cultamentos das relações de poder e das hierarquias funcionais; e ênfase na formação técnica especifica das necessidades educacionais especiais. Num processo de enfrentamento e complementaridade com essas formações, outras que se configuraram como recessivas entretecem as noções de transformação social, de participação no poder e construção de uma sociedade nãoexcludente,deslocando da escola as tarefas da inclusão, subordinando-as a um projeto de transformação social e/ou denunciando certos aspectos da inclusão como reprodutores do status quo. No entanto, nos dois tipos de formação discursiva, se entrecruzaram a subordinação do fazer ao pensar, da prática ao discurso, os saberes sendo dados como estabelecidos e a prática como passível de transformação a partir deles, elementos interpretados como reforçadores das formações discursivas dominantes e debilitadores das formações recessivas.

ASSUNTO(S)

análise de discurso discourse analysis inclusion inclusão sense special education sentido educacao educação especial

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