NOVOS TEMPOS SAÚDE MENTAL, CAPS E CIDADANIA NO DISCURO DE USUÁRIOS E FAMILIARES

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

A loucura tem sido percebida de diferentes formas ao longo da história. Se na Antiguidade foi concebida como manifestação divina e na Idade média como resultante de possessões demoníacas, no Século XVIII ganha status de doença mental, passando a exigir mecanismos segregadores e excludentes de tratamento, culminando com o surgimento do hospital psiquiátrico. Somente após a II Guerra Mundial é que podemos observar movimentos que tentaram reformular as práticas dominantes e oferecer uma nova perspectiva de tratamento ao transtorno mental. Nesse contexto destaca-se a Psiquiatria Democrática Italiana, que influenciou de forma decisiva a Reforma Psiquiátrica Brasileira. No Brasil o movimento em busca de uma reestruturação do atendimento em Saúde Mental inicia-se a partir da década de 70, onde constatamos o surgimento de inúmeros serviços substitutivos como os CAPS e de outros dispositivos tais como as Residências Terapêuticas, o Programa de Volta pra Casa e outros, que têm como objetivos promover a autonomia e o resgate da cidadania do portador de transtorno mental. Em Campina Grande o movimento da Reforma Psiquiátrica ganhou ênfase a partir da Intervenção Federal decretada num dos hospitais psiquiátricos da cidade, culminando no seu descrendenciamento do SUS, no seu fechamento e no fortalecimento de uma rede substitutiva de Saúde Mental. Neste trabalho realiza-se um estudo sobre a concepção dos usuários e familiares acerca de conceitos como cidadania e saúde mental,destacando-se alguns temas como participação familiar, atendimento oferecido no CAPS, caracterização do hospital psiquiátrico e o estigma e preconceito que cercam a doença mental. Foram entrevistados para esta pesquisa 15 usuários e 15 familiares de um CAPSCentro de Atenção Psicossocial de Campina Grande-PB.O material resultante das entrevistas, gerado a partir de um roteiro de entrevista semi-estruturada, foi gravado e transcrito na íntegra e analisado com base nos pressupostos da Psicologia Social Discursiva.No que se refere às discussões dos resultados podemos evidenciar que dentre as explicações dadas pelos entrevistados sobre o transtorno mental destacam-se as causas biológicas, psicossociais, sócio-econômicas e psicológicas.Ao conceituar o transtorno mental foi marcante no discurso dos entrevistados a descrição da sintomatologia da doença e das situações de crise.A importância da participação familiar também foi mencionada pelos entrevistados ao avaliarem a norma de funcionamento do CAPS que exige a participação no Grupo de família. De suma importância foram os relatos dos entrevistados sobre o atendimento no CAPS e suas caracterizações sobre o tratamento oferecido no hospital psiquiátrico, onde na totalidade da amostra o CAPS teve uma avaliação positiva do funcionamento e aspectos tais como medicação excessiva e isolamento familiar foram citados sobre a internação psiquiátrica. No que se refere à cidadania ressaltamos que para grande parte dos entrevistados este conceito está atrelado à aquisição de documentos e ao ato de votar, destacando se em seguida a concepção da cidadania ligada à ações de solidariedade e auxílio aos necessitados, ao direito de ser atendido num serviço de saúde,sendo marcantes os discursos que abordam o preconceito e estigma dos quais os portadores de transtornos mentais são alvos.

ASSUNTO(S)

saude coletiva discurso saúde mental mental health psychiatric reformation reforma psiquiátrica speech

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