No começo ele não tem língua nenhuma, ele não fala, ele não tem LIBRAS, né? : representações sobre línguas de sinais caseiras = In the beginning he doesn t have any language, he doesn t speak, he doesn t have LIBRAS, right? : representations about household sign language / In the beginning he doesn t have any language, he doesn t speak, he doesn t have LIBRAS, right? : representations about household sign language

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

04/04/2012

RESUMO

Durante muito tempo os surdos tiveram o direito de se comunicar pela língua de sinais negado, pois esta não era vista pela sociedade como linguisticamente legítima. Recentemente a língua brasileira de sinais (LIBRAS) obteve o reconhecimento do seu estatuto linguístico (BRASIL, 2002) e, a partir de uma visão sócio-antropológica da surdez (SKLIAR, 1998), alguns estudos têm distanciado o surdo das concepções patologizadas baseadas na deficiência auditiva e inserido o mesmo em discussões sobre educação bilíngue em contextos de minorias e invisibilização (CAVALCANTI, 1999). No entanto, nessa educação bilíngue somente o português e a LIBRAS são aceitos pela escola, enquanto as outras línguas que permeiam esse contexto tendem a ser invisibilizadas (SILVA, 2008). Assim, o surdo que não atende às expectativas linguísticas da escola é, frequentemente, apontado como "sem língua". A partir desse panorama, a presente pesquisa qualitativa (DENZIN; LINCOLN, 2006) de cunho etnográfico (ERICKSON, 1984; 1989) está inserida no campo da Linguística Aplicada, mas baseou-se em perspectivas interdisciplinares/transdisciplinares (MOITA LOPES, 2008). O objetivo consistiu em investigar as representações sobre as línguas de sinais caseiras respondendo a seguinte pergunta de pesquisa: Quais as representações de familiares de crianças surdas e de profissionais e estagiários surdos e ouvintes participantes de um programa de apoio escolar bilíngue sobre as línguas de sinais caseiras? Para a geração (MASON, 1996) de registros (ERICKSON, 1989), o corpus da pesquisa proveio, de um lado, de reuniões de grupo focal (PETTENDORFER; MONTALVÃO, 2006; MOITA-LOPES, 2009) e conversas informais e, de outro lado, diário de campo e diário retrospectivo da pesquisadora. Os encontros de grupo focal (3 encontros com profissionais e 9 encontros com familiares) e as conversas informais foram realizados com participantes de um programa de apoio escolar bilíngue a surdos desenvolvido em um centro de estudos inserido dentro de uma universidade pública de uma cidade do interior localizada na região sudeste do país. Todos os encontros foram gravados em áudio e vídeo e registrados em diário de campo. A geração de registros, análise e discussão dos dados seguiu o processo de pesquisa tipicamente associado aos estudos etnográficos (cf. ERICKSON, 1984, 1989). A análise dos dados envolveu exaustivas (re)leituras do corpus que compõe a pesquisa (diário de campo e transcrições das gravações em áudio e vídeo das conversas informais e dos encontros de grupos focais) com intuito de reunir evidências confirmatórias e/ou desconfirmatórias (ERICKSON, 1989) que validassem asserções para a pergunta de pesquisa. A análise recorreu ainda aos estudos relacionados à Linguística Aplicada através da crítica ao semilinguismo de Martin-Jones e Romaine (1986) e Maher (2007a), além de buscar respaldo na remodelação do conceito de língua proposto por César e Cavalcanti (2007). Tal conceito é proposto através da adoção da metáfora do caleidoscópio onde inúmeras possibilidades podem ser tomadas como legítimas, sem sobreposições de uma língua sob a outra. Na análise, também fui guiada pelos Estudos Culturais para compreender conceitos como o de "representação" elaborado por autores como Silva (2000) e Woodward (2000), entre outros conceitos tais como o de "terceiro espaço" e "entre lugares" de Bhabha (2007). Em síntese, as asserções desenvolvidas indicaram que as representações dos profissionais e estagiários surdos e ouvintes e de familiares participantes recaem no não reconhecimento das mesmas enquanto língua, apesar da funcionalidade linguística apresentada dentro do contexto familiar a que se prestam. Além disso, o uso das línguas de sinais caseiras é visto como prejudicial ao aprendizado da LIBRAS e foi associado como um critério de exclusão das comunidades surdas. A discussão teórica sobre as asserções visou colaborar com a desconstrução de estereótipos (BHABHA, 2007) em torno do surdo perpetuado nos discursos como "sem-língua". Desse modo, espera-se que esta pesquisa traga contribuições para as discussões sobre a perspectiva do multilinguismo em contextos de minorias (CÉSAR; CAVALCANTI, 2007), neste caso, especificamente, a surdez, favorecendo uma educação inclusiva diferenciada que considere e valorize a diversidade linguística e cultural do surdo.

ASSUNTO(S)

língua de sinais representações multilinguismo sign languages representations multilingualism

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