Nem burocratas nem cruzados : militares argentinos : memorias castrenses sobre a repressão / Nor burocrats neither crusaders : argentine army officers : military memories on repression

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Esta tese propõe-se a abordar a memória militar sobre a repressão na Argentina, mais especificamente, a memória do exército, buscando reconhecer as diferenças entre a memória oficial da instituição, as memórias dos oficiais reformados que participaram no Operativo Independencia e a memória dos setores civis/militares, assim como assinalar as posições relativas e conflitos que atravessam e conformam essa comunidade de memória. O objetivo geral é, pois, identificar quais e como são não só os sentidos e representações que tanto o exército quanto os oficiais reformados atualizam e elaboram para evocar e justificar a assim chamada “luta contra a subversão”, mas também as práticas comemorativas que encenam junto às famílias e às organizações cívico/militares para homenagear os oficiais “mortos pela subversão”. A memória castrense sobre a repressão responde tanto à continuidade de uma matriz narrativa sobre o passado recente, que reforça a autovaloração do exército como uma comunidade moral diferenciada da sociedade civil, quanto às transformações e inovações que vão permitindo à instituição e a seus homens posicionar-se frente ao fortalecimento da memória dos desaparecidos e ao discurso dos organismos de Direitos Humanos. Por isso, o interrogante primordial que anima esta tese é como se articulam mudança e continuidade na memória de uma instituição – e dos oficiais que foram contemporâneos dos fatos- para os quais o passado é uma fonte de legitimidade e identidade, mas que, ao mesmo tempo, são energicamente questionados por uma sociedade que lhes exige respostas pelos crimes cometidos. Atender às continuidades e rupturas da memória do exército permitirá, por sua vez, dar conta de sua dimensão de futuro e, assim, determinar as tendências à elaboração (atravessamento) ou à atuação (repetição compulsiva) dos sentidos de um passado autoritário e violento que tem o exército e seus homens como um de seus principais responsáveis. Daí que esta tese propõe-se também, por um lado, a examinar em que medida, para a comunidade militar, lembrar implica também assumir ou evadir as responsabilidades morais, jurídicas e políticas sobre o desaparecimento de pessoas, e, por outro lado, compreender como se articulam os argumentos justificatórios e as estratégias políticas com as quais se busca controlar e vigiar a transmissão de sentidos sobre a “luta contra a subversão” às novas gerações. Por último, esta tese propõe-se a indagar como a “luta contra a subversão”, enquanto prática e discurso, incide ao mesmo tempo em que se reapropria das significações morais dos oficiais do exército e da doutrina e práticas castrenses, assim como de seus valores, tradições e sentimentos. Para isso, busca investigar as relações entre moralidade, memória e identidade, prestando principal atenção àquilo que une os oficiais; àquilo que os obrigou ou convenceu a atuar de um ou outro modo; aos padrões de normalidade que organizam sua sociabilidade; àquilo que permitem ou proíbem, implícita ou explicitamente, seus códigos comuns; aos critérios de bem e de mal que detentam, enfim, os sentidos e práticas que estimulam e justificam a violência.

ASSUNTO(S)

armed forces argentine memoria - historia memory history argentine repressão - argentina repression forças armadas - argentina

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