Nem anjos, nem demônios... adolescentes autores de homicídio: contexto do delito e representações sociais sobre a vida humana

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

Em virtude de sua complexidade e relevância científica, a violência tem sido objeto de diversos estudos na contemporaneidade. A literatura aponta que adolescentes têm sido mais vítimas de homicídio do que autores deste delito. Entretanto, é a participação de adolescentes em atos infracionais que tem demandado maior interesse da sociedade brasileira. O objetivo deste estudo é compreender, a partir da perspectiva dos autores de homicídio, o contexto do delito e as representações sociais sobre a vida humana, por meio da realização de entrevistas junto a 16 adolescentes que cumpriam medida sócio-educativa na Unidade de Internação Sócio-Educativa (UNIS), localizada em Cariacica, ES. As entrevistas abordaram os seguintes temas: dados sócio-demográficos; cotidiano dos adolescentes antes da internação; significados da Internação; contexto do homicídio, representações sociais sobre a vida humana; significados sobre a morte; reflexões sobre o que fariam se voltassem no tempo; perspectivas de futuro; e um espaço para manifestação livre de idéias que não tenham sido abordadas na entrevista. Entre os principais resultados, se observa que a maioria dos homicídios foi cometida em locais públicos, com a presença de cúmplices, contra pessoas conhecidas, com armas de fogo e sem consumo de drogas. Entre as motivações alegadas, se encontram: a ameaça de morte por parte da vítima; a defesa da honra; infração à lei do crime; e crime de mando. Na ocasião do delito, a maioria dos adolescentes morava com o pai e/ ou a mãe, tinha freqüentado a escola, trabalhado e não tinha cometido outro ato infracional. Sobre a medida sócio-educativa de internação, se constata uma avaliação bastante negativa. Metade dos entrevistados expressou arrependimento por ter cometido o delito. Se pudessem voltar no tempo, grande parte deles não teria cometido o delito ou mudaria de vida. Nas perspectivas de futuro indicadas pelos adolescentes, prevalece o desejo de trabalhar e constituir família, mas também o medo de morrer por terem praticado homicídio. Na análise das representações sociais, a partir do valor atribuído pelos adolescentes à vida humana, se verificou uma avaliação positiva da vida de pessoas familiares (mãe, pai, irmãos, etc.); e negativa de estupradores, políticos, policiais, homossexuais. Conclui-se que, para a maioria dos participantes, o homicídio foi uma ocorrência circunstancial em suas vidas, visto que não tinham envolvimento anterior com atos infracionais. O delito foi cometido visando solucionar sérios conflitos cotidianos que, em muitos casos, consistiam em ameaças à vida, mas os adolescentes informaram que não pretendiam continuar a cometê-los.

ASSUNTO(S)

psicologia social homicide representações sociais social representations homicídio adolescents ato infracional adolescentes infraction

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