Mercado de linguas : a instrumentalização brasileira do portugues como lingua estrangeira / Market of languages : the Brazilian instrumentalisation of Portuguese as a foreign language

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Filiando-nos à História das Idéias Lingüísticas, na sua articulação com a Análise do Discurso de perspectiva materialista, estudamos a construção discursiva do português do Brasil como língua estrangeira (PLE), a partir da ampliação de seu espaço de enunciação (GUIMARÃES, 2002). Para tanto, investigamos duas instâncias da gramatização (AUROUX, 1992) brasileira do português os livros didáticos (LDs) de ensino de PLE e o Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras) ?, aqui concebidos como instrumentos lingüísticos, que se encontram no cerne do que Orlandi (2007a) denomina "política de línguas". Após um mapeamento da produção editorial brasileira de LDs de PLE desde a primeira publicação na área que nos permitiu observar interessantes mudanças diacrônicas , constituímos nosso corpus para o estudo desses materiais. Para a investigação do Celpe-Bras, concentramo-nos nos manuais do exame e em uma entrevista com um ex-membro da comissão técnica do Celpe-Bras. Nosso estudo indica que a configuração do Mercado Comum do Sul (Mercosul), em 1991, pode ser vista como o marco de um novo período no processo de gramatização brasileira (ZOPPI-FONTANA, 2007). Tal período é caracterizado por um gesto político do Estado brasileiro em relação à inclusão do português do Brasil em um espaço geopolítico transnacional, que se reverbera em diferentes iniciativas da sociedade civil. Constitui-se, assim, uma posição de autoria para o Estado/cidadão brasileiro. Percebemos, ainda, que o português é freqüentemente significado como uma língua do mundo da comunicação , de troca comercial , que está em toda parte . Assim, ele é antes representado como uma língua veicular (GOBARD, 1976) do que como uma língua de integração regional. Trata-se, porém, de uma representação específica de língua veicular, ligada ao avanço do ?capitalismo mundial integrado?, nas palavras de Guattari (1987). Dominar o português aparece, por exemplo, relacionado ao sucesso, recompensa prometida àqueles que obedecem às leis do Mercado , em tempos contemporâneos (PAYER, 2005). Além disso, não se representa o português como uma língua neutra, objetiva, despojada de suas especificidades étnicas? (GOBARD, op. cit., p.36). Ao contrário, observamos o funcionamento de um discurso de brasilidade , através do qual, de uma maneira ou de outra, faz-se sempre alusão ao Brasil e não a Portugal , o que evidencia o trabalho de uma política do silêncio (ORLANDI, 2002b). Em termos de Mercado, esse discurso permite vender? a língua portuguesa, enquanto instrumento para se atingir um objetivo outro, e, por conseguinte, vender os produtos em questão: os LDs e o Celpe-Bras. Em relação ao Estado, percebemos que o Brasil, marcado por políticas lingüísticas portuguesas, passa a disputar com Portugal espaços políticos, simbólicos e econômicos. Concebemos, assim, o português do Brasil não como uma língua globalizada, mas como uma língua transnacional, na medida em que ele se exporta como metonímia do Estado brasileiro. Concluímos, ainda, que a gramatização brasileira do PLE se configura a partir da relação entre as duas meta-instituições que, segundo Payer (op. cit.), desempenham um papel fundamental na constituição do sujeito contemporâneo: o Estado e o Mercado.

ASSUNTO(S)

linguagem - politica governamental lingua portuguesa - estudo e ensino - falantes estrangeiros languages mercosul celpe-bras. proficiency exam livros didaticos portuguese language textbooks exame celpe-bras

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